terça-feira, 1 de dezembro de 2009


Entidades publicam manifesto em defesa do Código Florestal 1 de dezembro de 2009


“Lutar pelo verde, tendo a certeza de que sem o homem e mulher o verde não tem cor”- Paulo Freire

O Código Florestal Brasileiro é um patrimônio da sociedade brasileira e uma referência internacional no que se refere à legislação sobre o meio ambiente e a utilização dos seus recursos. Apresenta-se de forma diferenciada às diversas formas de agricultura do país, permitindo maior flexibilidade para o desenvolvimento da agricultura familiar e camponesa, haja vista a importância desta para a produção de alimentos.

Após a criação do Código Florestal de 1965, foram incorporadas complementações por meio de medidas provisórias e reformas pontuais destacando-se as alterações de 89, quando o Brasil se preparava para a ECO 92.

Porém, mesmo com toda riqueza técnica e política sua aplicação não foi, de fato, efetiva. O governo, durante a ditadura, estava praticando uma política de incentivo ao desmatamento através de projetos de colonização, utilizando-se do lema “homens sem terra para terras sem homens”. Posteriormente, as novas diretrizes governamentais passaram a aplicar o código de forma punitiva sem proporcionar condições reais de adequação e regularização das propriedades.

Assim, com o passar dos anos, criou-se uma “mistificação” de que o Código Florestal é rígido e se apresenta como um empecilho ao desenvolvimento da agricultura no Brasil. No entanto, fica claro que o que falta não é uma legislação “de qualidade” e sim programas de governo que venham para auxiliar a agropecuária na adequação ao código.

Diante disso, as instituições e pessoas presentes ao Ato Público realizado na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, em 12/11/09, compreendendo a importância do atual Código como instrumento de política pública voltada à conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida do povo brasileiro, manifestam-se contrárias a qualquer projeto que venha substituí-lo ou modificá-lo sem a prévia aplicação efetiva de programas voltados a sua implantação e o amplo debate junto à sociedade brasileira.

Avaliamos que o PL 6424 é um retrocesso do atual Código em favor de interesses econômicos que defendem o avanço indiscriminado do agronegócio, na contramão da liderança que o Brasil deve assumir frente às questões socioambientais planetárias.

Dessa forma nos manifestamos em Defesa do Código Florestal Brasileiro e chamamos toda a comunidade a debater acerca do mesmo.

Se você concorda com este Manifesto, visite www.institutoaf.org.br/2009/11/manifesto-em-defesa-do-codigo-florestal/d... sua assinatura de apoio e também nos ajudando a divulgá-lo.

Para quem ainda tem dúvidas, criamos um Fórum de Discussão: www.institutoaf.org.br/forum/

Este Manifesto será entregue para Parlamentares na ESALQ/USP - Anfiteatro do Depto. de Ciências Florestais (Av. Pádua Dias, 11 - Piracicaba/SP), no dia 10/12/2009 às 19 horas, e posteriormente encaminhado para o Presidente da República, a Casa Civil, os Ministérios do Meio Ambiente, da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário, e demais Senadores e Deputados!

Saudações,

Comissão Organizadora do Ato Público

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O que é SER CAMPONÊS


O que é SER CAMPONÊS? Perguntam os estudiosos, pesquisadores, intelectuais, etc., na tentativa de interpretar a luta, a história, a realidade e a identidade camponesa. Mas, é chegada a hora em que os próprios camponeses se interpretem na sua própria construção histórica e na sua elaboração identitária.
O MPA, como um Movimento Camponês tem esse papel. E como tal, vem buscando ao logo de suas veredas, interpretar-se no tempo e no espaço de sua própria constituição. Como adolescentes em tempos de puberdade, ora alegres, ora indignados, torna-se extravagantes, rebeldes, demarca espaços, agriculta a vida, derruba cercas e saciam anseios. Mas, sua rebeldia tem causa, às vezes dentro de certa casualidade, de uma conjuntura quase sempre esnobe. Eis que o MPA demonstra sua força, mostra sua bandeira e expõe sua face... E muitos querem entender de onde vem e para onde vão as vítimas deste capital. Todavia, sua reação ao capital é de desencanto para protagonizar histórias de liberdades.
De faces diversas e pensamentos mil, procura se significar na historia da humanidade se fazendo humano. Talvez, precise ao longo de seus caminhos mistificarem-se, simbolizarem-se, resignificarem-se, para tão somente se interpretarem. Quem quiser que se entenda!

Alzení Tomáz
Amiga e colaboradora do MPA.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

TRANSGÊNICOS

TRANSGÊNICOS

O QUE SÃO OS TRANSGENICOS?
Os transgênicos são seres vivos criados em laboratório através de técnicas de engenharia genética desenvolvidas por cientistas, que transferem partes de um organismo para outro, ou tiram partes de um mesmo organismo, mudando a sua forma e manipulando sua estrutura natural com objetivo de obter características especificas. Isso mostra que os transgênicos são radicalmente diferentes das plantas e dos animais obtidos pelo melhoramento genético chamado de clássico ou convencional. A soja transgênica é um exemplo de organismo geneticamente modificado (OGM), pois recebeu genes de outros seres vivos que não são de sua espécie. A soja Roundup Ready (RR) da Monsanto, por exemplo, recebeu genes de uma bactéria para que se tornasse resistente ao herbicida Roundup fabricado pela própria Monsanto.
TRANSGÊNICOS: PARA QUER?
As empresas que produzem as sementes transgenicas costumam dizer que os transgênicos podem acabar com a fome no mundo, produzir alimentos mais saudáveis, aumentar a produtividade e até ajudar o meio ambiente. Na verdade, estão reciclando o discurso das décadas de 1960 e 1970, da Revolução Verde, que sabemos que aumentou a produtividade das lavouras mas também aumentou a degradação ambiental e a exclusão social.
POR QUE OS TRANSGENICOS SÃO UTILIZADOS NA AGRICULTURA?
Os transgênicos fazem parte do que as empresas chamam de “pacote tecnológico” (semente + agrotóxico) a ser vendido para o agricultor. Os organismos geneticamente modificados são um ótimo negócio para as empresas, pois é estabelecido um controle praticamente total sobre a produção. Comprando a semente transgênica, o agricultor também comprará o agrotóxico que a empresa fabrica. Alem disso, o produtor terá que comprar novas sementes a cada safra. Diferente da semente hibrida, que já tornava o agricultor dependente da industria, agora com as sementes transgenicas o produtor é obrigado a assinar um contrato com a empresa. Nele o agricultor assume o compromisso de não multiplicar sementes e de só usa-las naquele ano. Caso reserve, venda ou troque sementes, a empresa, pelos termos do contrato, poderá processar o agricultor. No caso de desconfiança, ela tem direito de entrar na propriedade e colher amostras da lavoura para saber se as sementes delas foram usadas. Nos Estados Unidos passam de 100 o numero de processos da Monsanto contra agricultores que multiplicaram sementes para o ano seguinte.
TODOS ESTES BENEFÍCIOS SÃO MITOS.
OS TRANSGENICOS NÃO VÃO ACABAR COM A FOME. Isso porque a fome no mundo não é um problema de falta de alimentos, mas de distribuição deles. De acordo com dados da FAO, há alimentos suficientes no mundo para alimentar cada habitante do planeta com 1,7 kg de cereais (como arroz e trigo), feijões e nozes; 200g de carne e 0,5 kg de frutas e vegetais. O problema do acesso à alimentação é a falta de renda da população e não a falta de alimentos.
OS TRANSGENICOS NÃOTÊM MAIOR PRODUTIVIDADE. Na Argentina, onde a plantio de transgênicos começou há onze anos, o rendimento na plantação de soja é estatisticamente semelhante ao da plantação convencional. Nos Estados Unidos, relatórios do próprio governo admitem que os cultivos não aumentaram o potencial da colheita de qualquer variedade e, em alguns casos, diminuiu este potencial. As variedades que protegem as plantas das pestes aumentaram a colheita total em relação ás variedades convencionais, especialmente nos cultivos Bt, mas este fato pode mudar com o tempo devido ao aumento da resistência das pestes à toxina produzida pela planta Bt.
OS TRANSGENICOS NÃO SÃO CAPAZES DE REDUZIR O USO DE AGROTÓXICOS. Na Argentina, atualmente, existem nove espécies de plantas invasoras suspeitas de serem tolerantes ao herbicida glifosato, o Roundup. Para enfrentar este novo problema, os produtores estão usando até 8 litros do herbicida por hectares por cada ciclo de cultivo. Nos Estados Unidos, que plantam soja transgênica há 11 anos, aumentou em 86% o uso de herbicidas na soja RR. No Rio Grande do Sul, embora não existam dados oficiais do governo, os agricultores comentam que a soja transgênica produz de 10 a 25% menos que a convencional e sofre mais com a seca.
OS ALIMENTOS TRANSGENICOS NÃO SÃO MAIS NUTRITIVOS. As empresas de Biotecnologia não têm desenvolvido alimentos mais nutritivos. Elas apenas desenvolvem sementes que se encaixam em seu “pacote tecnológico”, ou seja, resistente aos agrotóxicos que fabricam. Depois de 12 anos no mercado, os transgênicos cultivados hoje têm apenas duas características: Resistência a herbicida ou a lagartas. Quatro espécies transgenicas são cultivadas em escala comercial: soja, algodão, milho e canola. Pouco mais de três de cada quatro hectares que são cultivados com plantas transgênicas no mundo são de plantas resistentes a herbicidas, principalmente a produtos à base de glifosato. Ou seja, a propaganda diz muita coisa e muitas promessas são feitas pelas indústrias da biotecnologia, mas até agora isso está longe da realidade e o que se viu foi o aumento da dependência dos agricultores e da desconfiança dos consumidores.
O CONTROLE DAS TRANSNACIONAIS SOBRE AS SEMENTES. Para utilizar uma semente transgênica, o agricultor precisa pagar uma taxa para a empresa dona da semente. Esta taxa é chamada de “royalty” e o preço é determinado pela empresa. Para reproduzir a semente, o agricultor tem que ter a autorização da empresa e pagar novamente a taxa tecnológica. No Rio Grande do Sul, onde o plantio de soja transgênica foi ilegal, a Monsanto fez um acordo com todas as serialistas, armazenadoras e distribuidoras de grãos para cobrarem a taxa tecnológica dos agricultores. Em 2004 a taxa era de R$ 0,60 por saca de soja em 2005 a taxa passou para R$ 1,20. nenhum agricultor consegue vender sua produção sem pagar esta taxa. No mundo inteiro, tem sido comuns os processos judiciais das empresas contra os agricultores. Somente a Monsanto gasta 10 milhões de dólares por ano com advogados dedicados exclusivamente a investigar e perseguir agricultores que supostamente fazem uso indevido de suas sementes. Os casos conhecidos somam 147 agricultores acusados e processos contra outras 39 pequenas companhias. Pelos contratos que têm com os agricultores, mesmo que estes tenham deixado de plantar transgênicos, empregados da Monsanto podem entrar a qualquer momento dentro das propriedades para fiscalizar a produção até cinco anos após o plantio de transgênicos. O agricultor que planta transgênicos não pode armazenar e reproduzir as sementes sem autorização da empresa.

ORGANIZAÇÃO: Vera Lucia – MPA - AL

Bibliografia de referência
AS-PTA - Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa.
TERRA DE DIREITOS – Organização Civil Pelos Direitos Humanos.



Luta Camponesa – Soberania Alimentar e Poder Popular

BIODIVERSIDADE

BIODIVERSIDADE
“É o conjunto das diferentes formas de vida vegetal e animal que existem na natureza. Quanto maior a diversidade de formas de vida, ou seja, quanto maior a biodiversidade de uma região, maior sua riqueza. Segundo os cientistas, o que sustenta o nosso planeta é precisamente essas milhares de formas de vida complementares que existem no mundo vegetal e animal. As sementes transgênicas representam a uniformidade das plantas, uma espécie de monocultura mundial, e isso coloca em risco a biodiversidade e o próprio equilíbrio da vida no planeta, segundo a cientista indiana Vandana Sbiva”.

BIODIVERSIDADE E BIOSSEGURANÇA.
Atualmente, discutem-se no mundo aspectos que estão estreitamente ligados a nossa vida cotidiana, a nossa ação como camponeses, tais como a regulamentação e o aproveitamento da biodiversidade, o uso e a conservação dos recursos genéticos e a liberação dos organismos transgênicos que afetam a saúde da população, o ambiente rural e a economia camponesa. Os órgãos internacionais responsáveis por esses temas enfrentam um grande dilema: adotar a via do uso racional e inteligente dos recursos naturais, para um desenvolvimento sustentável, ou adotar a via que o livre comércio quer impor, da dominação do capital financeiro e o abandono da soberania alimentar.

BIOSSEGURANÇA: A VIDA EM BOAS MÃOS
Para o Movimento dos Pequenos Agricultores, a biodiversidade tem como base fundamental o reconhecimento da diversidade humana, a aceitação de que somos diferentes e de que cada povo e cada pessoa têm liberdade para pensar e para ser.
Vista dessa maneira, a biodiversidade não é só flora e fauna, solo, água e ecossistema. É também culturas, sistemas produtivos, relações humanas e econômicas, formas de governo. Em essência: LIBERDADE.
A diversidade é nossa própria forma de vida. A diversidade vegetal nos dá alimentos, remédios e casa, assim como a diversidade humana, com pessoas de diferentes condições, ideologia e religião nos dá a riqueza cultural. Isso demonstra que temos de evitar que se imponham modelos e que predomine uma só forma de vida ou um só modelo de desenvolvimento.
Opomo-nos a que se privatizem e patenteiem os materiais genéticos que dão origem à vida, à atividade camponesa, à atividade indígena. Os genes, a vida, são propriedades da própria vida. Nós, os camponeses, a temos protegido, cuidando dela com uma educação clara de geração em geração, com um profundo respeito à natureza. Somos nós, os camponeses, que realizamos o melhoramento genético e nossa maior contribuição é a evolução de cada uma das espécies.
Camponeses, homens e mulheres, pequenos agricultores, juntos com pescadores e artesãos, os povos indígenas e as comunidades negras, historicamente somos quem conserva, cria e maneja sustentavelmente a biodiversidade agrícola, que foi, é, e será a base de toda agricultura.

POR ISSO, NÓS DO MOVIMENTO DOS PEQUENOS AGRICULTORES E TODA A VIA CAMPESINA PROPOMOS:
Que a biodiversidade deve ser a base para GARANTIR A SOBERANIA ALIMENTAR, como um direito fundamental e básico – não negociável – dos povos. Direito que deve prevalecer sobre as diretrizes da OMC. Hoje, existem no mundo 800 milhões de pessoas com fome. Para resolver esse problema, devemos pensar em utilizar os alimentos locais, com que nos brinda a diversidade, apoiar os mercados regionais e locais, aplicar a pesquisa e a tecnologia com maior eqüidade.
UMA MORATÓRIA na bioprospecção (exploração, coleção e recoleção, transporte e modificação genética) e o acesso aos recursos genéticos e aos conhecimentos que os camponeses e as comunidades indígenas possuem desses recursos, enquanto não existirem mecanismo de proteção dos direitos de nossas comunidades para prevenir e controlar a biopirataria.
Proteger e promover OS DIREITOS DOS CAMPONESES sobre os recursos genéticos, o acesso à terra, ao trabalho e à cultura. Isso deve passar por um amplo processo informativo e participativo dos atores da biodiversidade. Para isso, estabelecer um mecanismo de consulta e monitoramento permanente com as organizações de agricultores, indígenas e comunidades.

PLANO CAMPONÊS- POR SOBERANIA ALIMENTAR E PODER POPULAR!

A industria dos Venenos

Agrotóxicos

As transnacionais continuam investindo pesado na produção de venenos para a agricultura, sendo os herbicidas o principal produto. Desde 2006, o Brasil passou a ser o maior consumidor de venenos na agricultura no mundo, vendendo em 2008, 723,5 milhões de toneladas e com um faturamento de 7. 125 bilhões de dólares. Os herbicidas representam 45 % das vendas, os inseticidas 29 % e os fungicidas 21 % das vendas. Segundo a ANVISA, 15 % dos alimentos consumidos no Brasil estão com excesso de venenos. As conseqüências para os seres humanos e o meio ambiente são cada vez mais graves no mundo. Pouco se divulga e pouso se sabe a respeito dos efeitos desta indústria perigosa.
Derli Casali
Direção do MPA – Nordeste

Conjuntura

São muitas as pessoas dos movimentos sociais que andam se perguntando sobre em que se encontra a crise que os meios de comunicação de massa andam falando que está chegando a ao fim. Bom. A crise continua e continuará ainda por muito tempo.
O fato é que os EUA continuam hegemônicos, mesmo ainda profundamente marcados pela crise financeira produzida pelo neoliberalismo e ainda configurada pelas relações neoliberais. A situação Norte Americana não é pior devido as riquezas que as instituições imperialistas arrastam para dentro do País: Banco Mundial, OMC. FMI e as próprias transnacionais. Mas de uma coisa não podemos esquecer: as práticas neoliberais não darão fôlego à economia Norte Americana por muito tempo.
A situação da América Latina, na forma como se apresenta hoje e o que irá acontecer até 2011, tem uma importância singular para o mundo. As próximas eleições que vão acontecer na Argentina, Uruguai, Chile, Brasil, Peru, apontam para situações que podem dizer muitas e muitas coisas sobre o futuro da América do Sul e suas relações com Estados Unidos. A decisão política entre EUA e Colômbia sobre as bases Militares Yanquianas em territórios Colombianos mexe com toda a América latina.
Podemos dizer que os próximos cenários eleitorais, sem contar as políticas que estão se definindo no Equador e na Bolívia, o peso que o Brasil tem a nível latino Americano e internacional por ter uma base industrial, agrícola, tecnologia e comercial que escapa ao conjunto da América latina, podem definir muitos dos rumos da América latina e suas relações com o mundo. E os Estados Unidos, certamente terão que construir outra base, outro modelo de organização da produção, do mercado, caso queiram garantir a hegemonia no mundo por um tempo mais prolongado.
Derli Casali – MPA

Direção Regional Nordeste – MPA

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Trabalho Escravo e Técnologias Modernas

Trabalho Escravo e Técnologias Modernas

Nestes dias, acabei me encontrando com cinco trabalhadores do Município de Ouricuri PE, que foram plantar cana numa fazenda, em Mato Grosso. Segundo depoimento dos mesmos, eram obrigados a trabalhar durante 12 horas por dia, sem parar. O trabalho era tão brutalizado, que muitos não resistiam e desmaiavam principalmente aqueles que picavam a cana nas valas. Um deles disse assim: senti, na pele, o que é trabalho escravo, onde o feitor olha para a gente como se não fôssemos nada, apenas produtores de riquezas para o patrão.
No Brasil, a escravidão continua muito presente. Desde 1500, com a escravidão dos indígenas, depois, a escravidão dos negros, e hoje a chamada escravidão da peonagem nos cortes de cana, exploração de minas, fazendas de gado, podemos dizer que a acumulação de riquezas, no Brasil, ainda se dá muito mais por meio da violência, do trabalho não pago e brutalizado. É muito comum encontrarmos sertão adentro, em fazendas, trabalhadores trabalhando apenas pela comida ou por uma quantia irrisória de 5 a 10 reais por dia, com jornada de mais de 10 horas. Isso mostra claramente como o capital acumula riquezas por meio do trabalho não pago e de forma violenta.
O que nos deixa perplexos é o fato da sociedade, no chamado tempo cotidiano, tem a compreensão que a escravidão não existe mais, e quando disse para os trabalhadores que aquelas formas de plantar cana, de cortar, constituíam em relações escravocratas, desumanas, um deles disse assim “pelo que sei já foi assinada a lei que deu fim ao trabalho escravo. Nosso Brasil não tem mais trabalho escravo". Infelizmente, essa é a leitura feita pela escola e meios de comunicação de massa que ao invés de ajudar as pessoas a se verem dentro das contradições da sociedade, ajudam bestializar, idiotizar ainda mais as pessoas. Em função disto, as pessoas não se vêem escravizadas, domesticadas, negadas até as últimas conseqüências. Têm muito forte a compreensão de que a riqueza acumulada nas mãos de alguns é fruto da capacidade, da inteligência e da proteção divina. Não se dão conta das diversas formas que os ricos exploram as classes trabalhadoras, apropriando-se do trabalho não pago. Nunca, na história do capitalismo, o trabalho não pago foi tão forte como na atualidade.
A substituição, de até 150 trabalhadores por uma baita máquina que corta cana, significa dizer que a produção desta máquina acumulou mais valia nas mãos da empresa, agora, nas mãos de um trabalhador fazendo a operação, responde pelo trabalho de 150 trabalhadores. A complexidade das relações capital trabalho, acumulação de riquezas, requerem produções tecnológicas cada vez mais excludentes e que acabam obrigando os excluídos a buscarem formas de trabalho no mundo do crime: roubos, pistolagem, assaltos, mundo do narcotráfico, do sexo... Faz crescer uma massa de gente que não consegue mais se aperceber nem dentro do tempo estrutural, conjuntural e cotidiano, ou seja, desterritorializando, descontextualizando e individualizando cada vez mais o ser humano. Quando mais são modernizadas as tecnologias apropriadas pelo capital, mais crescem as brutalisações no mundo.

Derlí Casali – Membro da Direção Regional/NE do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA

AMERICA DO SUL À BEIRA DO FUTURO

AMERICA DO SUL À BEIRA DO FUTURO
JOSÉ LUÍS FIORI

Depois de uma década à esquerda, a América do Sul está entrando numa zona de forte turbulência. Neste final de 2009, o Uruguai pode eleger para presidente da republica, um homem do povo e ex-guerrilheiro tupamaro, e o Chile talvez eleja um bilionário arrogante e de direita, que lembra muito o primeiro ministro italiano, Silvio Berlusconi. Há menos de um da reeleição dos presidentes da Bolívia e do Equador que se propõem mudar radicalmente a estrutura do estado e da propriedade dos seus países, com objetivos socialistas, mas sem ruptura revolucionária. Em 2010, haverá eleições na Colômbia e no Brasil, e em 2011, no Peru e na Argentina. Durante esta primeira década do século, as mudanças no continente foram apoiadas pela expansão econômica mundial, que também estimulou o projeto de integração América do Sul. Mas a crise financeira de 2008 provocou uma desaceleração do crescimento e do próprio projeto de integração econômica. E o projeto de integração política foi atingido em cheio pelo novo acordo militar entre a Colômbia e os Estados Unidos, que autoriza o uso do território colombiano por forças militares norte-americanas, de onde poderão controlar o espaço aéreo da Venezuela, e de toda a América do Sul. Por isso, não é exagero dizer que o futuro da América do Sul, na primeira metade do século XXI, pode estar sendo decidido nestes próximos dois anos. E já é possível mapear as grandes disjuntivas e escolhas que estão no horizonte do continente sul-americano.
Em primeiro lugar, do ponto de vista econômico, o que se deve esperar para depois da crise é um aumento da pressão dos mercados internacionais e o aprofundamento da condição periférica e primário-exportadora da maioria dos países sul-americanos. Mesmo com o alargamento e diversificação dos seus mercados compradores, na direção da Ásia, e da China, em particular. Nesta nova conjuntura, só uma vontade política coesa e continuada poderá manter de pé o projeto de integração sul-americano. Isto supõe uma decisão de estado e uma capacidade coletiva de manter sob controle os conflitos locais, a despeito das mudanças de governo. E supõe também, uma política conjunta de fortalecimento do mercado interno da América do Sul, com a redução da dependência regional das crises e das flutuações dos preços internacionais. Neste ponto, não existe meio termo, porque os países dependentes da exportação de produtos primários, mesmo no caso do petróleo, nunca conseguirão comandar sua própria política macro-econômica, e muito menos ainda, a sua inserção na economia mundial. Em segundo lugar, do ponto de vista político, a crise econômica explicitou ainda mais as assimetrias e desigualdades nacionais e sociais que estão por trás da heterogeneidade política regional e que explicam, em parte, a falta de interesse ou de entusiasmo de alguns países do continente, pelo projeto sul-americanista. Por fim, do ponto de vista da segurança continental, o aumento da presença militar americana na Colômbia serve para relembrar que a América do Sul seguirá por um bom tempo – e mesmo que não queira - sob a “proteção” do poder espacial, aéreo e naval dos EUA. E terá que ter uma enorme persistência e tenacidade para construir um sistema autônomo de segurança regional, sem produzir uma corrida armamentista dentro da própria região.
De qualquer forma, uma coisa é certa: o futuro do projeto sul-americano dependerá cada vez mais das escolhas brasileiras, e da forma que o Brasil desenvolva suas relações com os Estados Unidos. Do ponto de vista econômico, a pressão dos mercados internacionais e as novas descobertas do petróleo da camada do pré-sal, também estão oferecendo para o Brasil, a possibilidade de se transformar numa economia exportadora de alta intensidade, uma espécie de “periferia de luxo” dos grandes potencias compradoras do mundo, como foram no seu devido tempo, a Austrália e a Argentina, entre outros. Mas existe a possibilidade do Brasil escolher um outro caminho que combine seu potencial exportador, como uma estrutura produtiva industrial associada e liderada por uma economia mais dinâmica, como é o caso contemporâneo do Canadá, por exemplo. E além disto, existe uma terceira alternativa, absolutamente nova para o país, e que aponta de certa forma, para o modelo da estrutura produtiva norte-americana: com uma indústria extensa e sólida, e uma enorme capacidade de produção e exportação de alimentos e outras commodities de alta produtividade, incluindo o petróleo, no caso brasileiro. Por outro lado, no campo político, depois da hegemonia das idéias neoliberais e privatistas, e do “cosmopolitismo subserviente”, no campo internacional, está se consolidando no Brasil, um novo consenso desenvolvimentista, democrático e popular, mas que neste caso, não tem nada a ver com socialismo. As perspectivas futuras desta coalizão de poder, entretanto, dependerão, em grande medida, da estratégia internacional dos próximos governos brasileiros. O Brasil pode se transformar num “aliado estratégico” dos Estados Unidos, da Grã Bretanha e da França, com direito de acesso à uma parte de sua tecnologia de ponta, como no caso do Japão, ou mesmo de Israel, que acessou à tecnologia atômica militar, com a ajuda da França. Mas o Brasil também pode escolher um caminho próprio de afirmação soberana e de expansão do seu poder internacional. E neste caso, se o Brasil quiser mudar sua posição geopolítica, obedecendo as “regras de jogo’ do sistema mundial, terá que desenvolver um trabalho extremamente complexo de administração contínua das relações de competição, conflito e complementaridade com os Estados Unidos, e com as demais potências, tomando com norte os seus próprios interesses econômicos e geopolíticos. Numa disputa prolongada pela hegemonia da América do Sul, como se fosse uma “luta oriental” com os Estados Unidos. Caminhando através de uma trilha muito estreita e durante um tempo que pode se prolongar por várias décadas. Além disto, se o Brasil quiser liderar a integração soberana da América do Sul no mundo, terá que inventar uma nova forma de expansão econômica e política continental e mundial, sem “destino manifesto” nem vocação missionária, e sem o imperialismo bélico das duas grandes potências anglo-saxônicas.

sábado, 24 de outubro de 2009

A CRIMINALIZAÇÃO DOS POBRES

Enquanto o grileiro grila a terra a mídia coloca o povo contra o povo.
Ao atacar o MST, criminalizando como um movimento que transita fora da legislação, a Mídia está, na verdade criminalizando os milhões de milhões de brasileiros do campo e da cidade que são excluídos da terra, da moradia, do acesso à educação, à saúde e á alimentação digna. Ao criminalizar os Movimentos sociais, os meios de comunicação de massa e a bancada ruralista estão querendo, a todo custo colocar a sociedade contra a reforma agrária e em defesa de uma estrutura agrária perversa e do agronegócio, onde os monocultivos de laranja, de soja, de cana, de algodão e de eucalipto são mais importantes que os milhões de sem-terra lutando contra aqueles que fazem a grilagem da terra. A mídia e a bancada ruralista não querem que a sociedade brasileira se veja no rosto daqueles que produzem a comida que chega à mesa do povo, mas sim, nas grandes máquinas, nos aviões jogando veneno nos monocultivos, na destruição dos bens da natureza e nos grandes investimentos para modernizar o "plantation" a serviço do grande capital.
O objeto da CPMI, que é o deseja da bancada ruralista, não somente garantir essa estrutura fundiária maléfica e perniciosa, mas, também, garantir que os bilhões de reais que saem do bolso do povo brasileiro sejam destinados ao agronegócio, ou seja, grandes barragens, transnordestina, transposição, tudo para viabilizar a "plantation".
Em nome da democracia, a aristocracia continua controlando a terra, a educação, a saída, a moradia, os bens da natureza. Continua controlando o Estado. Uma coisa é certa: não podemos continuar nos vendo na tela da globo, da mídia que nos engana, no discurso eleitoral alienante, nas imagens bonitas e perversas do agronegócio. " Eis que plantei muito e não tenho nada... deixe que ele diga que sou preguiçoso mas não planto em tempo que é de queimada e é por meio dos laranjas que as terras públicas estão sendo griladas por tantos grileiros, como por exemplo deputados da bancada ruralista.

Derli Casali - MPA/Nordeste

terça-feira, 20 de outubro de 2009


VIA CAMPESINA

Alagoas
MMC – mpa – MST – cpp – povos indígenas – consulta popular

Aos Lutadores e Lutadoras da Reforma Agrária

Companheiros e Companheiras

Historicamente os camponeses (as) neste país foram excluídos do direito a terra e execrados de sua identidade e culturas, como a que se deu com os povos indígenas na invasão dos colonizadores. Neste período saquearam o ouro e a madeira para manter o luxo e o padrão de riqueza da elite européia, para tanto, escravizaram e fizeram extermínio em massa dos povos que aqui sempre existiram. Não o bastante, a coroa portuguesa traficou negros da África para lhes servir de mão-de-obra escrava nas fazendas, num outro momento da história o Brasil foi marcado pela corrupção da ditadura militar, pelo domínio dos meios de comunicação, da igreja, da educação, dos meios de produção e riqueza num famigerado jogo político. Este processo não foi diferente com o povo alagoano, criados com um cabresto nas fazendas de gado e nos engenhos e usinas de cana de açúcar. A elite é quem decidiu o que deviríamos estudar, comer, vestir e agindo com violência por meio da pistolagem e da criminalização dos Povos Indígenas e dos Movimentos Sociais.
A história se repete. E os séculos que se passam são marcados pela ação do capital que destrói, escraviza mentes, braços e corações. Por isso é preciso dizer a público que recursos como os do canal do sertão que já foram gastos mais de três vezes para fazer a mesma obra, estão a serviço do latifúndio e das oligarquias sertanejas, é uma obra de ilegalidades contestada e comprovada pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Constas da União que atingirá 42 municípios e fortalecerá grandes empresários do ramo da fruticultura, promoverá o avanço da cana de açúcar para o Agreste e Sertão do Estado como atesta dados do IBGE/MAPA que diz que o solo do Sertão é razoável com irrigação e sem irrigação para produção de etanol.
Apresentamos aqui uma lista de grandes projetos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do Agronegócio e Hidronegócio que já estão sendo implantados ou em elaboração: a implantação da Vale Verde na região do Agreste para exploração de minério, já vem destruindo a caatinga e sonegando direitos sagrados dos camponeses (as) na região, a construção da barragem das trairás em Pão de Açúcar matará de uma vez por todas a região do Baixo Rio São Francisco e conseqüentemente o seu povo, Barragem do Bálsamo em Palmeira dos Índios que impactaram o meio ambiente e muitas comunidades camponesas e indígenas, em breve a construção da transnordestina que passará de canto a canto do Estado favorecendo o modelo agroexportador, a linha verde que cortará toda a zona costeira de Alagoas, expulsando as populações pesqueiras para dar lugar a implantação de grandes hotéis de luxo se encarregando de privatizar as águas, intensificação da plantação do monocultivo do eucalipto, cana de açúcar transgênica, etc. Além, disto o governo do Estado vem defendendo a construção de usina núclear na região do Rio São Francisco, como se não bastasse as grandes barragens e ainda as obras da transposição do Rio São Francisco que vem decretando a morte do rio e de seu povo.
A Via Campesina de Alagoas vem denunciar e convocar a sociedade a se juntar com os camponeses e camponesas em luta, pois é urgente e necessária fazer a Reforma Agrária no Brasil e em Alagoas, desapropriar as terras improdutivas e os latifúndios produtivos de monocultivos que só gera mais riquezas para a elite. Para dar lugar à agricultura camponesa que produz alimento, que preserva o meio ambiente e que gera emprego e renda. Sendo uma alternativa de sustentabilidade real política, ética, econômica, social, cultural e ambiental que definitivamente se contrapõe ao modelo devorador da vida no planeta.
É possível sim outro jeito de ser e viver na terra, mas para isso, é preciso que os governos façam a Reforma Agrária e demarcação dos territórios tradicionais indígenas, quilombolas e pesqueiros. Invistam na agricultura camponesa com subsídios para produzir e alimentar os famintos e estocagem, garantindo assim a soberania alimentar. Políticas públicas estruturantes são necessários como: a garantia dos direitos previdenciários, educação camponesa e contextualizada, política publica de habitação, preservação das sementes crioulas como patrimônio dos povos, preservação do meio ambiente e biomas rios, aguadas, lagoas, fontes de minação, repensar a nossa matriz energética, barrar todas as formas de compra de terra para empresas transnacionais e tantas outras políticas necessárias para a preservação da vida da humanidade.
Nós pequenos agricultores, pescadores artesanais, mulheres camponesas, indígenas, quilombola, nos juntamos numa só voz e convocamos toda a classe trabalhadora alagoana a denunciar e a fazer a luta pela reforma agrária, reforçando e apoiando a marcha estadual do por Reforma Agrária e Soberania Popular do MST - AL, como meio de garantir à continuidade do campesinato. Como forma de garantia de vida e com alimento sadio, abundante e acessível para toda a população do nosso estado e do nosso país.
Convocamos o povo alagoano para discutir um Projeto Popular Alternativo e Político que promova a dignidade, a autonomia dos povos e soberania popular. Direitos dos quais, a Constituição Federal aponta mas, que na realidade nos é negado. Que o Povo se Levante e a Vida Floresça com Fartura e Justiça.

Viva a Luta pela Reforma Agrária!

Viva a Agricultura Camponesa!

Pátria Livre! Venceremos!

Globalizemos a Luta! Globalizemos a Esperança!

Via Campesina Alagoas, outubro de 2009.

sábado, 10 de outubro de 2009

Esclarecimentos sobre últimos episódios 9 de outubro de 2009 Diante dos últimos episódios que envolvem o MST e vêm repercutindo na mídia, a direção na

Esclarecimentos sobre últimos episódios
9 de outubro de 2009
Diante dos últimos episódios que envolvem o MST e vêm repercutindo na mídia, a direção nacional do MST vem a público se pronunciar.
1. A nossa luta é pela democratização da propriedade da terra, cada vez mais concentrada em nosso país. O resultado do Censo de 2006, divulgado na semana passada, revelou que o Brasil é o país com a maior concentração da propriedade da terra do mundo. Menos de 15 mil latifundiários detêm fazendas acima de 2,5 mil hectares e possuem 98 milhões de hectares. Cerca de 1% de todos os proprietários controla 46% das terras.
2. Há uma lei de Reforma Agrária para corrigir essa distorção histórica. No entanto, as leis a favor do povo somente funcionam com pressão popular. Fazemos pressão por meio da ocupação de latifúndios improdutivos e grandes propriedades, que não cumprem a função social, como determina a Constituição de 1988.
A Constituição Federal estabelece que devem ser desapropriadas propriedades que estão abaixo da produtividade, não respeitam o ambiente, não respeitam os direitos trabalhistas e são usadas para contrabando ou cultivo de drogas.
3. Também ocupamos as fazendas que têm origem na grilagem de terras públicas, como acontece, por exemplo, no Pontal do Paranapanema e em Iaras (empresa Cutrale), no Pará (Banco Opportunity) e no sul da Bahia (Veracel/Stora Enso). São áreas que pertencem à União e estão indevidamente apropriadas por grandes empresas, enquanto se alega que há falta de terras para assentar trabalhadores rurais sem terras.
4. Os inimigos da Reforma Agrária querem transformar os episódios que aconteceram na fazenda grilada pela Cutrale para criminalizar o MST, os movimentos sociais, impedir a Reforma Agrária e proteger os interesses do agronegócio e dos que controlam a terra.
5. Somos contra a violência. Sabemos que a violência é a arma utilizada sempre pelos opressores para manter seus privilégios. E, principalmente, temos o maior respeito às famílias dos trabalhadores das grandes fazendas quando fazemos as ocupações. Os trabalhadores rurais são vítimas da violência. Nos últimos anos, já foram assassinados mais de 1,6 mil companheiros e companheiras, e apenas 80 assassinos e mandantes chegaram aos tribunais. São raros aqueles que tiveram alguma punição, reinando a impunidade, como no caso do Massacre de Eldorado de Carajás.
6. As famílias acampadas recorreram à ação na Cutrale como última alternativa para chamar a atenção da sociedade para o absurdo fato de que umas das maiores empresas da agricultura - que controla 30% de todo suco de laranja no mundo - se dedique a grilar terras. Já havíamos ocupado a área diversas vezes nos últimos 10 anos, e a população não tinha conhecimento desse crime cometido pela Cutrale.
7. Nós lamentamos muito quando acontecem desvios de conduta em ocupações, que não representam a linha do movimento. Em geral, eles têm acontecido por causa da infiltração dos inimigos da Reforma Agrária, seja dos latifundiários ou da policia.
8. Os companheiros e companheiras do MST de São Paulo reafirmam que não houve depredação nem furto por parte das famílias que ocuparam a fazenda da Cutrale. Quando as famílias saíram da fazenda, não havia ambiente de depredações, como foi apresentado na mídia. Representantes das famílias que fizeram a ocupação foram impedidos de acompanhar a entrada dos funcionários da fazenda e da PM, após a saída da área. O que aconteceu desde a saída das famílias e a entrada da imprensa na fazenda deve ser investigado.
9. Há uma clara articulação entre os latifundiários, setores conservadores do Poder Judiciário, serviços de inteligência, parlamentares ruralistas e setores reacionários da imprensa brasileira para atacar o MST e a Reforma Agrária. Não admitem o direito dos pobres se organizarem e lutarem.
Em períodos eleitorais, essas articulações ganham mais força política, como parte das táticas da direita para impedir as ações do governo a favor da Reforma Agrária e "enquadrar" as candidaturas dentro dos seus interesses de classe.
10. O MST luta há mais de 25 anos pela implantação de uma Reforma Agrária popular e verdadeira. Obtivemos muitas vitórias: mais de 500 mil famílias de trabalhadores pobres do campo foram assentados. Estamos acostumados a enfrentar as manipulações dos latifundiários e de seus representantes na imprensa.
À sociedade, pedimos que não nos julgue pela versão apresentada pela mídia. No Brasil, há um histórico de ruptura com a verdade e com a ética pela grande mídia, para manipular os fatos, prejudicar os trabalhadores e suas lutas e defender os interesses dos poderosos.
Apesar de todas as dificuldades, de nossos erros e acertos e, principalmente, das artimanhas da burguesia, a sociedade brasileira sabe que sem a Reforma Agrária será impossível corrigir as injustiças sociais e as desigualdades no campo. De nossa parte, temos o compromisso de seguir organizando os pobres do campo e fazendo mobilizações e lutas pela realização dos direitos do povo à terra, educação e dignidade.
São Paulo, 9 de outubro de 2009
DIREÇÃO NACIONAL DO MST
9 de outubro de 2009
Diante dos últimos episódios que envolvem o MST e vêm repercutindo na mídia, a direção nacional do MST vem a público se pronunciar.
1. A nossa luta é pela democratização da propriedade da terra, cada vez mais concentrada em nosso país. O resultado do Censo de 2006, divulgado na semana passada, revelou que o Brasil é o país com a maior concentração da propriedade da terra do mundo. Menos de 15 mil latifundiários detêm fazendas acima de 2,5 mil hectares e possuem 98 milhões de hectares. Cerca de 1% de todos os proprietários controla 46% das terras.
2. Há uma lei de Reforma Agrária para corrigir essa distorção histórica. No entanto, as leis a favor do povo somente funcionam com pressão popular. Fazemos pressão por meio da ocupação de latifúndios improdutivos e grandes propriedades, que não cumprem a função social, como determina a Constituição de 1988.
A Constituição Federal estabelece que devem ser desapropriadas propriedades que estão abaixo da produtividade, não respeitam o ambiente, não respeitam os direitos trabalhistas e são usadas para contrabando ou cultivo de drogas.
3. Também ocupamos as fazendas que têm origem na grilagem de terras públicas, como acontece, por exemplo, no Pontal do Paranapanema e em Iaras (empresa Cutrale), no Pará (Banco Opportunity) e no sul da Bahia (Veracel/Stora Enso). São áreas que pertencem à União e estão indevidamente apropriadas por grandes empresas, enquanto se alega que há falta de terras para assentar trabalhadores rurais sem terras.
4. Os inimigos da Reforma Agrária querem transformar os episódios que aconteceram na fazenda grilada pela Cutrale para criminalizar o MST, os movimentos sociais, impedir a Reforma Agrária e proteger os interesses do agronegócio e dos que controlam a terra.
5. Somos contra a violência. Sabemos que a violência é a arma utilizada sempre pelos opressores para manter seus privilégios. E, principalmente, temos o maior respeito às famílias dos trabalhadores das grandes fazendas quando fazemos as ocupações. Os trabalhadores rurais são vítimas da violência. Nos últimos anos, já foram assassinados mais de 1,6 mil companheiros e companheiras, e apenas 80 assassinos e mandantes chegaram aos tribunais. São raros aqueles que tiveram alguma punição, reinando a impunidade, como no caso do Massacre de Eldorado de Carajás.
6. As famílias acampadas recorreram à ação na Cutrale como última alternativa para chamar a atenção da sociedade para o absurdo fato de que umas das maiores empresas da agricultura - que controla 30% de todo suco de laranja no mundo - se dedique a grilar terras. Já havíamos ocupado a área diversas vezes nos últimos 10 anos, e a população não tinha conhecimento desse crime cometido pela Cutrale.
7. Nós lamentamos muito quando acontecem desvios de conduta em ocupações, que não representam a linha do movimento. Em geral, eles têm acontecido por causa da infiltração dos inimigos da Reforma Agrária, seja dos latifundiários ou da policia.
8. Os companheiros e companheiras do MST de São Paulo reafirmam que não houve depredação nem furto por parte das famílias que ocuparam a fazenda da Cutrale. Quando as famílias saíram da fazenda, não havia ambiente de depredações, como foi apresentado na mídia. Representantes das famílias que fizeram a ocupação foram impedidos de acompanhar a entrada dos funcionários da fazenda e da PM, após a saída da área. O que aconteceu desde a saída das famílias e a entrada da imprensa na fazenda deve ser investigado.
9. Há uma clara articulação entre os latifundiários, setores conservadores do Poder Judiciário, serviços de inteligência, parlamentares ruralistas e setores reacionários da imprensa brasileira para atacar o MST e a Reforma Agrária. Não admitem o direito dos pobres se organizarem e lutarem.
Em períodos eleitorais, essas articulações ganham mais força política, como parte das táticas da direita para impedir as ações do governo a favor da Reforma Agrária e "enquadrar" as candidaturas dentro dos seus interesses de classe.
10. O MST luta há mais de 25 anos pela implantação de uma Reforma Agrária popular e verdadeira. Obtivemos muitas vitórias: mais de 500 mil famílias de trabalhadores pobres do campo foram assentados. Estamos acostumados a enfrentar as manipulações dos latifundiários e de seus representantes na imprensa.
À sociedade, pedimos que não nos julgue pela versão apresentada pela mídia. No Brasil, há um histórico de ruptura com a verdade e com a ética pela grande mídia, para manipular os fatos, prejudicar os trabalhadores e suas lutas e defender os interesses dos poderosos.
Apesar de todas as dificuldades, de nossos erros e acertos e, principalmente, das artimanhas da burguesia, a sociedade brasileira sabe que sem a Reforma Agrária será impossível corrigir as injustiças sociais e as desigualdades no campo. De nossa parte, temos o compromisso de seguir organizando os pobres do campo e fazendo mobilizações e lutas pela realização dos direitos do povo à terra, educação e dignidade.
São Paulo, 9 de outubro de 2009
DIREÇÃO NACIONAL DO MST

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Carta de Esclarecimento sobre o posicionamento do MAB a respeito da UHE Belo Monte

Brasil, 07 de outubro de 2009.


Carta de Esclarecimento sobre o posicionamento do MAB a respeito da UHE Belo Monte

O MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) vem a público reafirmar nossa posição contra a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, e de outras tantas barragens previstas para a região, bem como ratificar nosso apoio aos povos indígenas, lideranças e movimentos sociais que há anos fazem a luta contra esse projeto. Denunciamos a ofensiva da direita, de empresários, de latifundiários, da mídia, e da estrutura do Estado, que estão espalhando boatos infundados sobre a organização dos atingidos por barragens, tentando nos colocar contra o povo. O MAB já tem 25 anos de uma história de luta e organização na região amazônica.

Historicamente a construção de barragens no Brasil tem causado inúmeros impactos sociais e ambientais à população e ao meio ambiente. Segundo estudos, já se construíram mais de 2 mil barragens no Brasil, expulsando mais de 1 milhão de pessoas de suas terras, e alagando mais de 3,4 milhões de hectares de terras férteis. Outras 1.400 barragens devem ser construídas até 2.030, mais de 300 delas em solo amazônico.

Essas barragens mostram que a energia gerada serve para atender as grandes indústrias multinacionais instaladas aqui, como a Alcoa e a Vale, que pagam 10 vezes a menos de tarifa que o povo brasileiro. A produção final destas indústrias é exportada aos países centrais, a custos baixíssimos, inclusive com isenção de impostos. Ou seja: todos os planos de novas hidrelétricas, de mineradoras e de celulose estão minuciosamente articulados a serviço da acumulação imperialista. Além disso, estas obras são financiadas com dinheiro público do BNDES, chegando a mais de 70% do investimento.

Por isso queremos reafirmar que:

1- O projeto de construção da UHE Belo Monte está pensado na lógica do atual modelo energético, e, portanto, é anti-povo. Combatê-las, deve ser um compromisso de todo povo, do campo e da cidade. O Movimento dos Atingidos por Barragens é contra a construção de Belo Monte e de qualquer hidrelétrica no atual modelo de sociedade.
2- As riquezas naturais são do povo e devem estar a serviço do povo. A luta da energia e a luta em torno dos projetos minerais, de projetos de celulose, enfim de todos os grandes projetos, devem ser entendidas como lutas por soberania.
3- Vamos lutar contra a construção dessa obra, contra a privatização de nossos rios e exigir um plano de desenvolvimento pautado no respeito ao meio ambiente e a população da região.
4- Vamos continuar exigindo as dívidas sociais e ambientais deixadas pelas empresas do setor elétrico e pelo Estado brasileiro em todos estes anos de construção, como forma de minimizar os impactos deixados. O que não significa que aceitamos a política energética imposta. Pelo contrário, vamos continuar denunciando todas as formas de ameaças, cooptação, violência, para com as populações atingidas.

Por fim, estamos empenhados na construção de um outro projeto de desenvolvimento, baseado no respeito aos povos tradicionais, e a população como um todo, sua cultura, sua identidade, nos seus costumes, no respeito à natureza, e na socialização das riquezas produzidas, a fim de construirmos uma sociedade mais humana e mais justa a todos e todas.

“Água e Energia não são mercadorias
Água e Energia são Pra Soberania”.

Coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens

Alegria, música e denucias marcam abertura da Conferência
A abertura da I Conferência Nacional da Pesca Artesanal foi marcada pela alegria das apresentações das caravanas. Os representantes do Piauí, Pará, Ceará, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraná, Rio de Janeiro e Amapá, em meio às cantorias e verdadeiras histórias de pescador, apresentaram símbolos que lembram a atividade pesqueira nos estados.

“Essa é oportunidade de dizer ao governo do que precisamos. Dizer que agente existe e precisa não de migalha, mas de uma parcela justa”, disse Paulo César, pescador e quilombola da Bahia.

Após as apresentações, foi formada a mesa de abertura da Conferência. Composta por seis lideranças de pescadores artesanais, das cinco regiões do país, pelo professor Angelo Brás Callou, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), e por Marina dos Santos, da Coordenação Nacional do MST, representando a Via Campesina. “Nós pescadores e camponeses temos o mesmo inimigo nesse modelo de desenvolvimento que privilegia e dá melhores condições para o agro e hidronegócio”, afirmou Marina.

“Eu tenho certeza que estão muito felizes aqueles companheiros que há mais de vinte anos começaram a lutar pelos nossos problemas”, afirmou José Roberto, da coordenação do Movimento Nacional dos Pescadores (Monape).

Os membros da mesa focaram seus discursos na importância de elucidar e discutir os atuais problemas enfrentados pelos trabalhadores do setor artesanal. Foram levantadas questões relacionadas ao meio ambiente, políticas públicas, assuntos previdenciários e culturais. Maria das Neves, pescadora do município de Lagoa do Carro (PE), e uma das representantes da Articulação Nacional das Pescadoras (ANP), ressaltou a alegria em participar pela primeira vez de uma “plenária onde a maioria das pessoas presentes são pescadores e pessoas realmente preocupadas em dar voz aos trabalhadores artesanais”.

Agricultores indianos em guerra com a Coca-Cola

Agricultores indianos em guerra com a Coca-Cola

8 de outubro de 2009

Em meio à pior seca da Índia em quatro décadas, agrava-se uma disputa pelos recursos hídricos entre os agricultores de Kala Dera, no Estado de Rajastão, e na engarrafadora local da Coca-Cola. Os agricultores e ativistas de Kala Dera que pedem o fechamento da unidade da transnacional afirmam que se não conseguirem fechá-la este ano, tão açoitado pela seca, provavelmente nunca o farão. Kala Dera fica a 40 quilômetros de Jaipur, capital do árido Estado de Rajastão, que tem entre suas principais atrações o deserto de Thar, considerado o sétimo maior do mundo e o terceiro da Ásia.

“As pessoas que administram a fábrica da Coca-Cola são muito influentes e contam com o apoio de políticos do governante Partido do Congresso e do opositor Partido Bharatiya Janada”, disse o ativista e agricultor Rameshwar Prasad Kudi à IPS por telefone desde Kala Dera. “Mas nós temos o povo do nosso lado e continuaremos pressionando para que a fábrica seja fechada”, acrescentou. Kudi, integrante da organização local Kala Dera Sangharsh Samiti, disse que foram violadas várias regras e normas quando da autorização para instalar uma engarrafadora de bebidas em uma área com tradicional escassez de água. E o “obsceno” da coisa é que continua funcionando como de costume em meio a uma severa seca.

Estimativas divulgadas no final de setembro pelo Departamento Meteorológico Indiano, as secas deste ano podem ser piores do que as de 1972, devido à fraca temporada de vento das monções, que entre junho e setembro proporcionam chuvas vitais para 60% da agricultura do país. O Departamento prevê que a região noroeste seja a mais prejudicada pela seca. As escassas chuvas de monções no começo da temporada já afetaram a produção anual de arroz e outros importantes cultivos comerciais, com cana-de-açúcar e amendoim. A água está esgotada nas principais reservas do país, ameaçando a irrigação necessária para manter os cultivos de inverno.
Os especialistas culpam a mudança climática pela falta de água. Inundações graves, secas e tempestades são outros males causados por este fenômeno ambiental no mundo. Kudi disse que os depósitos hídricos esgotados de Kala Dera fazem com que ele e outros produtores não possam retirar água para salvar suas culturas de inverno. Também acusou a Coca-Cola de reduzir ainda mais a água subterrânea com operações de extração que a empresa desmente.

“Usamos menos de 1% da água disponível em Kala Dera, e continuamente buscamos reduzir e reciclar a água usada para nossas atividades de engarrafamento”, disse Kamlesh Sharma, gerente de Relações Públicas e Comunicações da Coca-Cola. Segundo Sharma, a empresa realiza ações para recarregar os lençóis freáticos com recarga hídrica dentro e fora de suas 56 fábricas indianas. “Em Kala Dera criamos o potencial de recarregar o solo com 15 vezes mais água do que usamos em nossa fabrica. Inclusive, com menos chuva do que o normal, estas estruturas podem recarregar muito mais água do que a retirada para o engarrafamento”, afirmou.

Perguntado o motivo de a empresa ter escolhido instalar-se em uma área conhecida pelas secas, Sharma respondeu que a companhia apenas atendia a um plano do governo para transformar Kala Dera, uma esquecida área rural que dependia unicamente da agricultura, em um moderno centro industrial. “Cremos que podemos contribuir positivamente com a água em Kala Dara”, afirmou Sharma, citando dados do governo de Rajastão segundo os quais a queda natural da camada de água nos últimos 10 anos foi menor em Kala Dara (1,83 metro) do que nas áreas vizinhas (2,39 na aldeia de Chomu, 2,28m em Jaipur e 2,43m em Tigariya).

A Coca-Cola afirma que isto é resultado da “administração hídrica” por parte de uma companhia responsável com a perícia no assunto. Para Sharma, é completamente injusto culpar a empresa pela escassez hídrica em Kala Dera, quando a agricultura é a atividade que mais consome água. “Os esforços de conservação devem incluir passos para que os agricultores usem a água de modo eficiente. O que se necessita é uma completa mudança de mentalidade, que não desperdice água com a irrigação tradicional e que aceitem métodos agrícolas como a irrigação por gotejamento”, afirmou.

A Coca-Cola está preparada para ajudar os produtores a fazer essa transição. “No ano passado entramos em uma associação público-privada com a agência governamental Krishi Vigyan Kendra (um serviço de extensão agrícola), para dar assistência aos produtores e implementar projetos de irrigação em Kala Dera”, disse Sharma. “Até agora implementamos 27 projetos de irrigação por gotejamento e planejamos instalar mais 200 nos próximos meses”, acrescentou. O método de gotejamento permite que a água vá diretamente para as raízes, o que minimiza a quantidade de liquido e também de fertilizante.

Porém, os agricultores têm uma postura diferente. Mahesh Yogi, por exemplo, disse à IPS que apesar de a Coca-Cola subsidiar a irrigação por gotejamento o programa é caro e insustentável, devido aos equipamentos que exige, os quais, por sua vez, necessitam de manutenção. “Em Kala Dera há 25 mil agricultores, e simplesmente não é possível cobrir uma quantidade significativa em um breve período. O que faremos nesse ínterim? E quem se preocupará com a futura manutenção?”, perguntou. Yogi acredita que os beneficiários da irrigação por gotejamento foram um punhado de pessoas endinheiradas e influentes que apóiam as atividades da Coca-Cola.

Entretanto, a situação hídrica ficou tão ruim este ano que mesmo as indústrias locais, particularmente as reunidas na Associação da Área Industrial de Kala Dara, uniram-se à campanha contra a Coca-Cola. As reclamações de Kudi e Yogi estão apoiadas pelo informe de um estudo do prestigioso Instituto de Pesquisas Ambientais de Nova Déli, divulgado no ano passado. Essa pesquisa mostra que as operações da Coca-Cola em Kara Dera “continuarão entre as que contribuem para uma pior situação hídrica e são fonte de tensão para as comunidades aldeãs”.

As recomendações do Instituto propõem que a transnacional mude sua fábrica para uma área onde haja água em abundancia ou transporte água até a engarrafadora desde um aquífero, em lugar de recorrer à extração local. O informe foi incentivado por uma campanha internacional liderada por estudantes dos Estados Unidos, do Canadá e da Grã-Bretanha, que incluiu 20 faculdades e universidades, exigindo o fim dos produtos da transnacional em seus campi, por contribuírem para a escassez hídrica e contaminar as áreas onde opera na Índia.

Curiosamente, ativistas contra a Coca-Cola inicialmente se opuseram a escolher o Instituto de Pesquisas Ambientais como “avaliador independente”, porque no passado havia trabalhado com essa companhia e inclusive a apontara como uma das empresas mais responsáveis da Índia em 2001.

Fonte: IPS/Envolverde

O LEGADO DE CHE GUEVARA



O legado de Che

8 de outubro de 2009

Por João Pedro Stedile*

Em 8 de outubro cumpre-se o aniversário do assassinato de Che Guevara pelo exército boliviano. Após sua prisão, em 8 de outubro de 1967, foi executado friamente, por ordens da CIA. Seria ''muito perigoso'' mantê-lo vivo, pois poderia gerar ainda mais revoltas populares em todo o continente.

Decididamente, a contribuição de Che, por suas idéias e exemplo, não se resume a teses de estratégias militares ou de tomada de poder político. Nem devemos vê-lo como um super-homem que defendia todos os injustiçados e tampouco exorcizá-lo, reduzindo-o a um mito.

Analisando sua obra falada, escrita e vivida, podemos identificar em toda a trajetória um profundo humanismo. O ser humano era o centro de todas as suas preocupações. Isso pode-se ver no jovem Che, retratado de forma brilhante por Walter Salles no filme Diários de Motocicleta, até seus últimos dias nas montanhas da Bolívia, com o cuidado que tinha com seus companheiros de guerrilha.

A indignação contra qualquer injustiça social, em qualquer parte do mundo, escreveu ele a uma parente distante, seria o que mais o motivava a lutar. O espírito de sacrifício, não medindo esforços em quaisquer circunstâncias, não se resumiu às ações militares, mas também e sobretudo no exemplo prático. Mesmo como ministro de Estado, dirigente da Revolução Cubana, fazia trabalho solidário na construção de moradias populares, no corte da cana, como um cidadão comum.

Che praticou como ninguém a máxima de ser o primeiro no trabalho e o último no lazer. Defendia com suas teses e prática o princípio de que os problemas do povo somente se resolveriam se todo o povo se envolvesse, com trabalho e dedicação. Ou seja, uma revolução social se caracterizava fundamentalmente pelo fato de o povo assumir seu próprio destino, participar de todas as decisões políticas da sociedade.

Sempre defendeu a integração completa dos dirigentes com a população. Evitando populismos demagógicos. E assim mesclava a força das massas organizadas com o papel dos dirigentes, dos militantes, praticando aquilo que Gramsci já havia discorrido como a função do intelectual orgânico coletivo.

Teve uma vida simples e despojada. Nunca se apegou a bens materiais. Denunciava o fetiche do consumismo, defendia com ardor a necessidade de elevar permanentemente o nível de conhecimento e de cultura de todo o povo. Por isso, Cuba foi o primeiro país a eliminar o analfabetismo e, na América Latina, a alcançar o maior índice de ensino superior. O conhecimento e a cultura eram para ele os principais valores e bens a serem cultivados. Daí também, dentro do processo revolucionário cubano, era quem mais ajudava a organizar a formação de militantes e quadros. Uma formação não apenas baseada em cursinhos de teoria clássica, mas mesclando sempre a teoria com a necessária prática cotidiana.

Acreditar no Che, reverenciar o Che hoje é acima de tudo cultivar esses valores da prática revolucionária que ele nos deixou como legado.

A burguesia queria matar o Che. Levou seu corpo, mas imortalizou seu exemplo. Che vive! Viva o Che!

* Integrante da coordenação nacional do MST e da Via Campesina.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

censo agropecuario

Concentração de terras, rebanhos e devastação aumentam
30 de setembro de 2009
O Censo Agropecuário 2006, divulgado nesta quarta-feira (30/9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra um agravamento da concentração de terras nos últimos 10 anos e o retrato de um modelo de desenvolvimento para o campo que está na contramão das preocupações ambientais e sociais.
A concentração e a desigualdade regional é comprovada pelo Índice de Gini da estrutura agrária do País. Quanto mais perto esse índice está de 1, maior a concentração. O Censo do IBGE mostra um Gini de 0,872 para a estrutura agrária brasileira, superior aos índices apurados nos anos de 1985 (0,857) e 1995 (0,856).
O estudo reafirma o velho quadro da concentração fundiária no Brasil. Os dados levantados apontam que as pequenas propriedades (com menos de 10 hectares) ocupam apenas 2,7% da área ocupada por estabelecimentos rurais. Já as grandes propriedades (com mais de 1000 hectares) ocupam 43% da área total.
O que torna os números assustadores é o fato de as pequenas propriedades representarem 47% do total de estabelecimentos rurais, enquanto os latifúndios correspondem a apenas 0,91% desse total.
Segundo o levantamento de 2006, o Brasil possui 5,2 milhões de estabelecimentos agropecuários, ocupando 36,75% do território nacional.

O Censo mostra que a atividade principal nessas áreas é a criação de bovinos, que ocorre em mais de 30% dos estabelecimentos. Em seguida, estão o cultivo de outras lavouras temporárias (que inclui feijão e mandioca), em cerca de 18% dos estabelecimentos; o cultivo de cereais (12%) e a criação de aves (9%). Na última década, rebanho bovino cresceu 12,1% e o Pará foi o Estado que registrou o maior aumento (119,6%). Apenas 19,9% do total de propriedades que criam gado possuem 80,7% do rebanho do país. O maior rebanho bovino encontrava-se em Mato Grosso do Sul (20,4 milhões de cabeças), seguido por Minas Gerais (19,9 milhões) e Mato Grosso (19,8 milhões).
Os maiores aumentos dos efetivos bovinos entre os censos foram nas Regiões Norte (81,4%) e Centro-Oeste (13,3%). Segundo o IBGE, as reduções do número de estabelecimentos com bovinos e dos rebanhos do Sul e do Sudeste mostram que a bovinocultura deslocou-se do Sul para o Norte do país, destacando-se, no período, o crescimento dos rebanhos do Pará, Rondônia, Acre e Mato Grosso. Nestes três estados da região Norte, o rebanho mais que dobrou, enquanto que em Mato Grosso o aumento foi de 37,2%.
Coincidência?
O estudo também aponta que diminuíram as áreas de florestas e de pastagens naturais mantidos dentro das propriedades rurais. Houve uma redução de 12,1 milhões de hectares (-11%) nas áreas com matas e florestas contidas em estabelecimentos agropecuários. Mais uma vez, a região Norte lidera o ranking do desmatamento, com menos 6,8 milhões de hectares. Mais uma vez o Pará ocupa um lugar de destaque. As propriedades deste Estado apresentaram 3,2 milhões de hectares a menos de floresta. A região Centro-Oeste aparece em segundo lugar, com menos 3,2 milhões de hectares. Pastagens plantadas também se expanderam para o Norte, e lavoura aumenta mais no Centro-Oeste.
Ainda de acordo com o Censo, os estabelecimentos que têm como atividade principal a cana-de-açúcar e a soja ficaram com a maior participação no valor da produção agropecuária (ambos com 14% cada um), seguidos por criação de bovinos (10%), cultivo de cereais (9%) e cultivo de outros produtos da lavoura temporária (8%).
O levantamento demonstra que a modernização das lavouras em função da inserção cada vez maior do país no mercado de commodities mundiais (características das grandes propriedades) ampliou a concentração de terras em algumas regiões do país, como é o caso Centro-Oeste, maior região produtora de soja.
A produção de soja cresceu 88,8% entre 1995 e 2006, alcançando 40,7 milhões de toneladas. O produto foi cultivado em 15,6 milhões de hectares, o que significou ampliação de 69,3% na área colhida.
"Em termos absolutos, representa um aumento de 6,4 milhões de hectares, caracterizando a soja como a cultura que mais se expandiu na última década. Grande parte desta área pertence à região Centro-Oeste", informa o IBGE, em comunicado.
O IBGE aponta também que 46,4% dos estabelecimentos agropecuários cultivaram soja transgênica em 2006. As sementes geneticamente modificadas foram cultivadas em 4 milhões de hectares.
Pequena propriedade emprega e produz mais
O Censo desvendou também a farsa do emprego alardeada pelo agronegócio. Nos pequenos estabelecimentos estão quase 85% dos trabalhadores. Embora a soma de suas áreas represente apenas 30,31% do total de propriedades, os pequenos estabelecimentos respondem por 84,36% das pessoas empregadas. Mesmo que cada um deles gere poucos postos de trabalho, os pequenos estabelecimentos (área inferior a 200 hectares) utilizam 12,6 vezes mais trabalhadores por hectare que os médios e 45,6 vezes mais que os grandes estabelecimentos.
Os dados também mostram que esses trabalhadores fazem parte da agricultura familiar. Produtores e seus parentes representam 77% (ou 12.801.179) do total de ocupados nos estabelecimentos agropecuários.
Apesar de ocupar apenas um quarto da área, a agricultura familiar responde por 38% do valor da produção (ou R$ 54,4 bilhões) desse total. Mesmo cultivando uma área menor, a agricultura familiar é responsável por garantir a segurança alimentar do país gerando os produtos da cesta básica consumidos pelos brasileiros. O valor bruto da produção na agricultura familiar é 677 reais por hectare/ano.
Os dados do IBGE apontam que em 2006, a agricultura familiar foi responsável por 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café , 34% do arroz, 58% do leite , 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do trigo. A cultura com menor participação da agricultura familiar foi a soja (16%). O valor médio da produção anual da agricultura familiar foi de R$ 13,99 mil.
Enquanto isso...
A pesquisa confirma também as prioridades do atual governo. Dos 5,2 milhões de propriedades existentes, somente 920 mil obtiveram financiamentos para produção, sendo 85% destes receberam de programas governamentais. Dos que não foram agraciados, 3,63 milhões (85,42%) são pequenas propriedades. Já as grandes propriedades, captaram 43,6% dos recursos.
Veneno
A maioria dos estabelecimentos onde houve utilização de agrotóxicos não recebeu orientação técnica (56,3%). O Estado com maior número de estabelecimentos que utilizavam agrotóxicos era o Rio Grande do Sul (273,85 mil).
A aplicação manual dos venenos, por meio do pulverizador costal - que é o equipamento de aplicação que apresenta maior potencial de exposição aos agrotóxicos - é a mais utilizada, presente em 70,7%. Quanto ao destino das embalagens vazias, embora haja um número ainda considerável de estabelecimentos que deixam-nas no campo (126 mil ou 9,0%), há aquelas que são queimadas ou enterradas em 358 mil estabelecimentos (25,7%). Além disso, em cerca de 20% das propriedades que aplicaram agrotóxicos não se utilizava equipamento de proteção.
Para saber mais, confira a íntegra do estudo.

Início
Marcha Estadual do MST em Alagoas começa em Delmiro Gouveia
1 de outubro de 2009

Cerca de 1.500 trabalhadores rurais do MST começaram hoje em Delmiro Gouveia a Marcha Estadual por Reforma Agrária e Soberania Popular, exigindo do poder público o desenvolvimento de uma política de Reforma Agrária que vá além da desapropriação de terras, mas garanta crédito para o cultivo, educação e outras demandas das áreas de assentamentos e acampamentos. “Vejo como positivo, pois muitos vêem o Movimento com olhares distorcidos, quando se sabe da real luta que há”, contesta Ronie Von, morador de Delmiro Gouveia que assistiu ao começo da Marcha.
O ato de abertura percorreu as ruas da cidade e contou com a presença de representantes de vários movimentos de nível local e estadual, culminando com a apresentação do grupo Umburana de Cheiro, de Sergipe. “Já está claro que a concentração de terra e a concentração de renda levam à barbárie. Esta Marcha é uma demonstração de que neste país e em Alagoas há uma exigência da mudança desse quadro”, afirmou Lenilda Lima, representando a Central Única dos Trabalhadores.
Entre as expectativas do MST com esta Marcha é colaborar para a organização de todo o povo no Interior e na Capital, refletindo que a Reforma Agrária é uma luta que compete a todos, por alterar as condições da exploração capitalista não só para quem produz no campo, mas também para quem consome na cidade. Os trabalhadores rurais deixam Delmiro Gouveia na manhã desta quinta-feira (30/09), às 5h da manhã e percorrerão aproximadamente trezentos quilômetros até
(Fotos de Raul Spinassé)
Maceió, conversando com a população sobre problemas locais, entre eles o prejuízo que trazem o Agronegócio e a mineração para os pequenos produtores, o meio ambiente e para a saúde da população em geral.
Todos os dias, os marchantes levantam cedo para caminhar, mas dedicam suas tardes ao estudo de textos e vídeos para formação política. Todas as noites, atrações culturais dos próprios assentamentos embalam o ritmo dos acampamentos da Marcha.

Votorantim continua causando morte no rio São Francisco
5 de outubro de 2009

Por frei Gilvander Moreira
Em 2 de outubro de 2009, dia do nascimento de Gandhi, antevéspera do dia de São Francisco de Assis, patrono do Velho Chico, cerca de 350 pescadores, Sem Terra, sindicalistas e representantes de Movimentos populares e da Via Campesina - membros da Articulação Popular em defesa do rio São Francisco - promoveram manifestação na cidade de Três Marias (MG), às margens do Velho Chico e no portão de entrada da Votorantim Metais.
Às 6h da manhã, após concentração na beira do rio São Francisco, iniciamos uma marcha, atravessando a ponte da BR 040, que está logo abaixo da barragem de Três Marias. Em frente à Votorantim Metais, a BR 040 foi bloqueada durante 30 minutos. Depois, aconteceu um Ato Público durante duas horas no portão de entrada da empresa, onde com faixas, gritos de luta e através de pronunciamento de muitas lideranças e pescadores foram denunciadas as agressões que a Votorantim vem provocando no rio São Francisco há 40 anos. No manifesto distribuído à população, assinado por 22 movimentos populares e sindicatos, consta, por exemplo, que:
a) A Votorantim é uma das principais empresas responsáveis pela poluição do rio São Francisco com metais pesados. Desde o final de 2004 já morreram 200 toneladas de peixes, principalmente surubins adultos contaminados por rejeitos tóxicos lançados pelo processamento de zinco da Votorantim Metais. Só de óxido de Zinco a produção chega a 110 toneladas por dia com 600 dólares de lucro por tonelada. A empresa vende esse produto, principalmente, para Pirelli, Michelin e outras indústrias de pneus que infestam as cidades de automóveis, prestando culto à automovelatria (carrolatria). Além de matar, diretamente, os peixes e, indiretamente, pescadores, causar devastação ambiental e social, a Votorantim infernaliza a vida nas cidades.
b) A Votorantim Metais começou a operar em 1969 e por 14 anos lançou seus rejeitos minerários diretamente no rio São Francisco. Somente em 1983 foi construída uma barragem de contenção de rejeitos. Mas, para facilitar a vida da empresa, a barragem foi construída na barranca do rio na cidade de Três Marias! Os metais pesados, através da infiltração, continuaram a se acumular no leito do rio. Hoje existe, no fundo do rio, um metro e meio de lama tóxica. Quando as comportas da barragem de Três Marias são abertas, essa lama é revolvida, contaminando ainda mais a água e os peixes. A poluição industrial da Votorantim Metais sempre esteve no cerne da contaminação das águas do Rio São Francisco. Por isso, os órgãos ambientais – os que não se vendem – exigiram a desativação da primeira barragem. Umas segunda foi construída pela empresa, mas de forma irregular, desrespeitando normas técnicas exigidas pelos órgãos ambientais. Continuou ocorrendo infiltração e a segunda barragem também foi reprovada. Em 2005, a empresa comprometeu-se em construir uma terceira barragem e cumprir mais 25 TACs – Termo de Ajuste de Conduta. A poluição continua, e não se tem informação sobre o cumprimento dos termos.
c) Relatórios e análises químicas de órgãos ambientais mostram que água, sedimentos e peixes apresentam índices alarmantes de contaminação por metais pesados, muitas vezes acima dos permitidos pelo Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente): zinco – 5.280 vezes; cádmio – 1.140; cobre – 32; chumbo – 42.
d) A CEMIG também foi denunciada pela abertura das comportas da usina de Três Marias para possibilitar os passeios turísticos do barco a vapor Benjamin Guimarães, e em época de outros eventos para camuflar a realidade do rio poluído, degradado e minguante. Com a súbita liberação das águas, muitas plantações dos vazanteiros são destruídas, e a consequência é mais fome.
A manifestação foi ostensivamente acompanhada pela Polícia Militar, que seguia a cartilha que lhe ordena a agir com truculência. Parou os 4 ônibus e revistou todas as pessoas e os pertences. No momento do trancamento da BR 040, policiais empurraram pescadores e Sem Terra, gritando e ameaçando com cacetetes. No Portão da empresa, a polícia impediu que fosse feito um piquete para tentar evitar a entrada dos trabalhadores. Já quase ao meio dia, após percorrermos muitas ruas da cidade de Três Marias, fomos “escoltados” até a sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde ficamos por um certo tempo sitiados.
Após tentar deter os militantes, os policiais foram alertados de que quem deveria ser presa era a Votorantim - pois está contaminando com metais pesados o rio São Francisco.
Belo Horizonte, 4/10/2009, dia de São Francisco de Assis, dia do rio São Francisco.
Frei Gilvander Moreira é mestre em Exegese Bíblica, assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT – e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br – www.gilvander.org.br


Mercedes Sosa: a mulher que cantou a voz dos excluídos de nossa América

5 de outubro de 2009

Morreu na madrugada deste domingo (4/10) em Buenos Aires, ao 74 anos, a cantora argentina Mercedes Sosa. Sua morte se deu em consequência de uma doença hepática complicada por problemas respiratórios.

Ela havia sido internada em 18 de setembro, depois de ter sofrido uma complicação renal, mas seu estado piorou nos últimos dias por causa de uma falha cardiorrespiratória.

La Negra -- como é carinhosamente chamada em seu país-- é internacionalmente reconhecida pelo seu engajamento e por cantar voz dos excluídos na América. Nascida na cidade de San Miguel de Tucumán em 1935, Sosa teve uma atuação marcante durante a ditadura militar argentina, entre 1976 e 1983 e acabou exilada na Europa.

Mercedes Sosa sempre foi uma grande apoiadora da luta pela Reforma Agrária e companheira dos Sem Terra.

Militantes do MST e Mercedes Sosa, outubro de 2008, RJMilitantes do MST e Mercedes Sosa, outubro de 2008, RJA seguir, leia a nota divulgada pela família da cantora.

"Somos los nietos, los hermanos, los sobrinos, el hijo de quien fue para nosotros algo más y distinto que una gran artista popular. Con ella compartimos la vida, las alegrías y las angustias privadas. Porque esa gran artista fue además nuestra abuela, nuestra hermana, nuestra tía, nuestra mamá. Es por eso que queremos llegar a ustedes desde ese lugar íntimo, lejos de la severidad y la dureza de los comunicados oficiales: porque sabemos que también la quisieron y la siguen queriendo aún mucho más allá de la cantante y de la artista que los acompañó tantas veces, a la que han hecho parte de su familia aún sin tener lazos de sangre.

Es desde este lugar que queremos contarles que Mercedes -la mamá, la tía, la abuela, la hermana-abandonó este mundo el día de hoy. Pero también queremos decirles que estuvo siempre acompañada-inclusive cuando ya no podía saberlo- por un desfile interminable de amigos y artistas populares, y en cada uno de ellos: Ustedes. Y que a pesar de lo triste de cualquier agonía, pasó esos últimos momentos en paz, peleando aguerridamente contra una muerte que terminó ganándole la pulseada.

Por cierto estamos conmovidos y queremos compartir con ustedes esta tristeza. Aunque, al mismo tiempo, nos queda la tranquilidad de que todos hicieron lo posible- incluida nuestra Negra- para quedarse un ratito más entre nosotros.

Lo que más feliz la hacía a Mercedes era cantar. Y seguramente ella hubiera querido cantarles también en este final. De modo que así queremos recordarla y así los invitamos a hacerlo con nosotros. Infinitas gracias por ese acompañamiento que jamás dejó de estar presente.

Familia de Mercedes

(Com informações do jornal Brasil de Fato)

sábado, 3 de outubro de 2009

Nota de apoio a Conferncia da Pesca Artesanal

Nota de apoio a

I Conferencia Nacional dos Pescadores Artesanais do Brasil

A I Conferencia dos Pescadores Artesanais têm o significado político importante dentro da atual conjuntura que estamos vivendo, pelo fato dos pescadores e pescadoras, ribeirinhos das lagoas e dos mares, estarem se afirmando como protagonistas de uma grande luta juntamente com os demais movimentos da Via Campesina contra o hidronegocio.

Uma das grandes lutas dos pescadores e das pescadoras artesanais vem se afirmando no sentido de contrapor a lógica perversa das colônias de pesca criadas e impostas pelo governo, além desta grande luta contra a forma como a marinha age dentro das colônias.

Centenas de comunidades pesqueiras estão sendo vítimas da presença violenta de grandes empresas que estão se apropriando de suas áreas para a criação da piscicultura e carcinocultura, a exemplo da Netuno no Baixo São Francisco.

Por isso apoiamos esta conferência no sentido de fortalecer as comunidades tradicionais pesqueiras para que possam continuar garantindo o controle dos territórios e continuar produzindo nosso alimento: peixe, macaxeira, amendoim, remédios, etc.

Sendo parceiro desta luta, o Movimento dos Pequenos Agricultores deseja que esta conferência seja um marco na construção de um projeto rumo a uma sociedade soberana e livre de todas as amarras do capital.

Brasília, 25 de setembro de 2009.

Coordenação Nacional do MPA.

ORGANIZAR. PRODUZIR. ALIMENTAR.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

MPA divulga nota sobre índices de produtividade

MPA divulga nota sobre índices de produtividade

3 de setembro de 2009

O agronegócio latifundiário, que tem medo dos índices de produtividade, é uma farsa. Na verdade, ele mente para a sociedade e não sustenta sua posição de latifúndio improdutivo e parasita do Estado brasileiro.

Se não, vejamos:

O agronegócio latifundiário se apresenta como moderno e produtivo, tecnologicamente avançado, sustentáculo das exportações agrícolas. No entanto demonstra um medo arrasador a uma simples atualização dos índices de produtividade em cumprimento da lei agrícola, (este setor só é defensor da lei quando esta lhe favorece). Pela média dos últimos dez anos, a última atualização é de 34 anos atrás. Portanto, ou não é verdade que se modernizaram e são produtivos ou o pavor dos índices não se justifica.

O mais provável é que o agronegócio latifundiário, que sempre foi o maior beneficiário do crédito agrícola nos últimos anos, esteja dando esmola com chapéu alheio. Quem produz mesmo são os pequenos e médios agricultores. Estes sim, sustentam a produção de alimentos, as exportações agropecuárias, geram o maior número de empregos e dinamizam a economia na maioria dos municípios brasileiros.

O agronegócio latifundiário esteve, está e quer continuar a desrespeitar a Constituição e a lei agrícola.

QUEM PRODUZ NÃO TEM O QUE TEMER. QUEM TEME É POR QUE NÃO PRODUZ.

O MPA é um movimento social de pequenos agricultores, que conhece de fio a pavio a produção primária, suas dificuldades e potencialidades. Qualquer dos nossos agricultores, apesar de todas as carências tecnológicas que temos, cumpre tranqüilamente com os novos índices propostos. Por que o agronegócio latifundiário, que tantas benesses recebeu, não pode ou não quer cumprir?

DESSA VEZ SOMOS NÓS QUE DIZEMOS: CUMPRA-SE A LEI

MPA BRASIL
DIREÇÃO NACIONAL

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Os três mil trabalhadores rurais Sem Terra que integram o Acampamento Nacional pela Reforma Agrária, junto a mil participantes de mais de 20 entidades sindicais, populares e estudantis do país, saíram em marcha na manhã desta sexta-feira (14/8), em Brasília, em defesa dos direitos do trabalhadores e contra as demissões causadas pela crise econômica mundial. Os manifestantes percorrem a Esplanada dos Ministérios desde às 9h30.
A Jornada Nacional de Lutas Contra a Crise une, hoje, trabalhadores de todo o país para exigir a manutenção do emprego e melhores salários, a ampliação dos direitos trabalhistas, a redução das taxas de juros e investimentos em políticas sociais.
“A prioridade do governo diante da crise econômica deve ser uma política de geração e defesa de empregos. Um programa massivo de Reforma Agrária pode criar 360 mil empregos diretos para a população do campo, por exemplo, além de garantir a soberania alimentar no campo e na cidade”, afirma Vanderlei Martini, da coordenação nacional do MST.
Estão previstos atos em todo o país dentro da Jornada Contra a Crise nesta sexta. Em São Paulo, está sendo realizada uma marcha na Avenida Paulista


Do Litoral ao Sertão, o povo vai às ruas em Alagoas
14 de agosto de 2009
Diversas organizações da Classe Trabalhadora organizaram uma reação em massa às demissões, arrochos salariais e possíveis perdas de direitos de qualquer categoria trabalhista, durante o período de crise nas finanças e na produção. É a Jornada Nacional Unificada de Lutas, da qual faz parte uma programação de passeatas, panfletagens, palestras e outras ações de luta que acontecem durante esta sexta-feira (14/08), convocadas por todas as centrais sindicais do Estado (CUT, Conlutas, CTB), por movimentos populares de educação e cultura e pela Via Campesina, organização dos movimentos sociais do campo.
A pauta dos trabalhadores unificados tem dez pontos de convergência entre as organizações que lutam, hoje no país. Desde o impedimento de futuras demissões até redução da jornada de trabalho sem redução de salários, como medida de criação de postos de trabalho. Também compondo a pauta unificada, a Reforma Agrária é apontada como um modo de superação da Crise econômica, já que garante distribuição de terra e renda, gera empregos e garante a soberania alimentar no campo e na cidade.
No Alto Sertão, haverá uma passeata, em que trabalhadores da Via Campesina (Movimento dos Pequenos Agricultores, Movimento dos Atingidos por Barragens, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, entre outros) marcharão pelas ruas de Delmiro Golveia contra as obras do Canal do Sertão que, segundo as organizações, é uma falsa resolução do problema da água no semi-árido. A programação deve iniciar às 9h no trevo Maria Bode, entre as cidades de Água Branca e Delmiro.
Em Maceió, as primeiras movimentações começam a partir das 6h30 da manhã, em frente à Braskem, com a participação dos operários da empresa, principal colaboradora na poluição do ar na região da Orla Lagunar. Em seguida, às 7h30, haverá uma concentração em frente ao Tribunal Regional Eleitoral.
Para contribuir para a formação crítica dos próprios trabalhadores, a Assembléia Popular convidou o professor Golbery Lessa para um bate-papo sobre os efeitos da Crise economica mundial sobre a classe trabalhadora. A conversa acontece às 9h da manhã, no auditório do Sindprev, na rua Dr. Mizael Domingues, Centro, em frente à unidade de saúde PAM Salgadinho




Via Campesina bloqueia rodovias em Alagoas
14 de agosto de 2009
Cerca de 350 trabalhadores do campo bloquearam nesta manhça o cruzamento das rodovias AL-145 e BR-423, o conhecido trevo Maria Bode, entre as cidades de Delmiro Gouveia, Paulo Afonso e Água Branca. A ação faz parte da Jornada Nacional Unificada de Lutas, convocada por todas as centrais sindicais do país e movimentos populares do campo e da cidade para questionar o modelo de desenvolvimento imposto para Brasil.
O projeto de sociedade que está sendo implementado pelos donos do poder econômico, midiático e político-eleitoral tem como central políticas econômicas conservadoras, que garantem a lucratividade dos grandes enquanto reduz os direitos dos pequenos. Dentre as políticas, os grandes projetos de empreiteiras como a Transposição do Rio São Francisco ou o Canal do Sertão representam o que há de mais agressivo vindo dos planos capitalistas, pois se apresentam como obras faraônicas que vieram resolver os problemas da população, quando na prática vão consolidar o poder econômico de elites fundiárias locais.
A convivência com o semi-árido pode ocorrer quando o poder público se responsabiliza pela aplicação de políticas simples e de já comprovada eficácia, como recuperação das matas ciliares dos rios e lagos, destinação de recursos para a preservação das sementes e da biodiversidade da caatinga (recaatingamento), pequenas adutoras para abastecimento das populações urbanas, entre outras iniciativas já utilizadas pelas populações locais.
Os trabalhadores da Via Campesina estão agora em passeata em direção ao Centro de Delmiro Gouveia para dialogar com a população sobre os prejuízos do Canal do Sertão. Lá, outras categorias de trabalhadores da cidade se unirão à manifestação.