Brasil, 07 de outubro de 2009.
Carta de Esclarecimento sobre o posicionamento do MAB a respeito da UHE Belo Monte
O MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) vem a público reafirmar nossa posição contra a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, e de outras tantas barragens previstas para a região, bem como ratificar nosso apoio aos povos indígenas, lideranças e movimentos sociais que há anos fazem a luta contra esse projeto. Denunciamos a ofensiva da direita, de empresários, de latifundiários, da mídia, e da estrutura do Estado, que estão espalhando boatos infundados sobre a organização dos atingidos por barragens, tentando nos colocar contra o povo. O MAB já tem 25 anos de uma história de luta e organização na região amazônica.
Historicamente a construção de barragens no Brasil tem causado inúmeros impactos sociais e ambientais à população e ao meio ambiente. Segundo estudos, já se construíram mais de 2 mil barragens no Brasil, expulsando mais de 1 milhão de pessoas de suas terras, e alagando mais de 3,4 milhões de hectares de terras férteis. Outras 1.400 barragens devem ser construídas até 2.030, mais de 300 delas em solo amazônico.
Essas barragens mostram que a energia gerada serve para atender as grandes indústrias multinacionais instaladas aqui, como a Alcoa e a Vale, que pagam 10 vezes a menos de tarifa que o povo brasileiro. A produção final destas indústrias é exportada aos países centrais, a custos baixíssimos, inclusive com isenção de impostos. Ou seja: todos os planos de novas hidrelétricas, de mineradoras e de celulose estão minuciosamente articulados a serviço da acumulação imperialista. Além disso, estas obras são financiadas com dinheiro público do BNDES, chegando a mais de 70% do investimento.
Por isso queremos reafirmar que:
1- O projeto de construção da UHE Belo Monte está pensado na lógica do atual modelo energético, e, portanto, é anti-povo. Combatê-las, deve ser um compromisso de todo povo, do campo e da cidade. O Movimento dos Atingidos por Barragens é contra a construção de Belo Monte e de qualquer hidrelétrica no atual modelo de sociedade.
2- As riquezas naturais são do povo e devem estar a serviço do povo. A luta da energia e a luta em torno dos projetos minerais, de projetos de celulose, enfim de todos os grandes projetos, devem ser entendidas como lutas por soberania.
3- Vamos lutar contra a construção dessa obra, contra a privatização de nossos rios e exigir um plano de desenvolvimento pautado no respeito ao meio ambiente e a população da região.
4- Vamos continuar exigindo as dívidas sociais e ambientais deixadas pelas empresas do setor elétrico e pelo Estado brasileiro em todos estes anos de construção, como forma de minimizar os impactos deixados. O que não significa que aceitamos a política energética imposta. Pelo contrário, vamos continuar denunciando todas as formas de ameaças, cooptação, violência, para com as populações atingidas.
Por fim, estamos empenhados na construção de um outro projeto de desenvolvimento, baseado no respeito aos povos tradicionais, e a população como um todo, sua cultura, sua identidade, nos seus costumes, no respeito à natureza, e na socialização das riquezas produzidas, a fim de construirmos uma sociedade mais humana e mais justa a todos e todas.
“Água e Energia não são mercadorias
Água e Energia são Pra Soberania”.
Coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens
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