quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Nota da Via Campesina e Movimentos Sociais ao Povo Brasileiro Sobre as Eleições 2010
No início do processo eleitoral deste ano, os Movimentos Sociais e a
Via Campesina Brasileira tomaram a decisão política de empenhar
esforços para eleger o maior número possível de parlamentares e
governadores, identificados com as bandeiras populares da classe
trabalhadora, com o aprofundamento da democracia e soberania
brasileira e com políticas que combatam a concentração da propriedade
e da renda em nosso país. Quanto à eleição presidencial, as
organizações populares do campo que compõem a Via Campesina decidiram
lutar para que não houvesse a vitória eleitoral de uma proposta
neoliberal, representando pela candidatura do tucano José Serra.
Passando o primeiro turno dessa campanha eleitoral, realizado dia
3/10, queremos, com este comunicado ao Povo Brasileiro, manifestar
nossa decisão política frente á eleições deste ano:
Sobre o primeiro turno:
a) São alvissareiras as renovações que ocorreram nas assembléias
estaduais, na Câmera dos Deputados, no Senado Federal, na eleição e
reeleição de governadores progressistas. Especialmente no Senado
Federal, fomos vitoriosos com a eleição de companheiros e companheiras
identificadas com nossas lutas e com a não eleição de senadores que se
notabilizaram pela perseguição aos movimento sociais e identificados
com os interesses do agro-negócio. Destacamos, como vitória, a derrota
eleitoral do governo tucano de Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul, que
se notabilizou, juntamente com o governo tucano de São Paulo, no
controle da mídia, na criminalização dos movimentos sociais e na
repressão à luta pela reforma agrária, aos movimentos de moradia e ao
movimento dos professores da rede pública estadual.
b) Sobre as campanhas presidenciáis, evidenciou-se que não
transcorreram debates em torno de projetos políticos e dos problemas
principais que afetam a população brasileira. A campanha de Dilma
Roussef buscou apenas de forma pragmática, divulgar o desenvolvimento
econômico e as políticas sociais do governo Lula, apoiar-se na
popularidade e nos enorme índices de aprovação do atual governo. Com
essa estratégia obteve quase 47% dos votos, mas foi insuficiente para
vencer no primeiro turno.
c) Quanto á candidatura de José Serra nos surpreendeu não por sua
identificação com as políticas neoliberais e sim pelo baixo nível da
sua campanha presidencial. Foi agressivo e perseguiu jornalistas que
lhe entrevistaram, tentou interferir em julgamentos do Supremo
Tribunal Federal(STF), espalhou mentiras e acusações infundadas,
chegou a usar a própria esposa que percorreu as ruas de Niterói
dizendo que a Dilma Roussef, “é a favor de matar as criancinhas”.
Somente uma candidatura sem nenhum compromisso com a ética e com a
verdade e contando com o total controle sobre a mídia pode desenvolver
uma campanha de tão baixo nível. A biografia do candidato já é a maior
derrotada nessas eleições.
d) Quanto a candidatura de Marina Silva, cumpriu o objetivo a que se
propôs: o de provocar o segundo turno nessa campanha eleitoral. O
tempo dirá se o seu êxito serviu para fortalecer a democracia ou
simplesmente foi utilizado pelas forças conservadoras, retornassem ao
governo do país.
e) Já as candidaturas identificadas com os partidos de esquerda, que
utilizaram o espaço eleitoral para defender os interesses da classe
trabalhadora, infelizmente tiveram uma votação inexpressiva.
f) O descenso social que há duas décadas temos em nosso país,
fragmentação das organizações da classe trabalhadora e a fragilidade
da política de comunicação com a sociedade, certamente influíram no
resultado eleitoral. Cabe uma auto-crítica aos partidos políticos que
se limitam apenas as campanhas eleitorais para dialogar com a
sociedade, e que não falte trabalho de base e a formação política
permanente.
g) Por último, as eleições deste ano demonstraram o poder nefasto e
anti-democrático da mídia. Mas que por outro lado potencializou uma
rede de comunicadores independentes, comprometidos com a liberdade de
expressão e com o direito à informação e que enfrentaram
aguerridamente o monopólio dos meios de comunicação em nosso país.
São avanços rumo à democratização da informação e pelo controle
social sobre meios de comunicação.
2) Sobre o segundo Turno:
a) Reafirmamos nosso compromisso em defesa das bandeiras de lutas da
classe trabalhadora e na construção de um país democrático,
socialmente justo e soberano. Independentemente do governo eleito,
seja ele qual for, iremos lutar, de forma intransigente pela expansão
das liberdades e dos direitos democráticos oprimidos; mudanças nas
instituições e serviços públicos, em benefício da ampla maioria da
população; combate aos monopólios para o desenvolvimento com soberania
e distribuição de renda; defesa das conquistas trabalhistas, a redução
da jornada de trabalho, o direito de greve para os servidores
públicos; a Previdência Social pública, de boa qualidade pelo fim do
fator previdenciário; realização de uma reforma urbana, com moradia,
saneamento básico, transporte público e segurança; construção de
serviços de saúde universal e de boa qualidade; reformas na educação
pública e promoção da cultura nacional-popular com caráter universal;
fim do latifúndio, limite do capital estrangeiro sobre nosso recursos
naturais e a realização de uma reforma agrária anti-latifundiária;
implantação de novas relações da sociedade com o meio-ambiente e
efetivação uma política externa de autodeterminação, solidariedade aos
povos e que priorize a integração dos povos do continente
latino-americano e do Caribe.
b) Infelizmente, os avanços do governo Lula em direção á essas
bandeiras democrático-populares, foram insuficientesem em que pese o
acerto de sua política externa. Também nos preocupa constatar que, no
arco de alianças da candidatura de Dilma Roussef, há forças políticas
que se contrapõem à essas demandas sociais.
c) Porém, temos uma certeza: José Serra, por sua campanha, pelo seu
governo no estado de São Paulo e pelos oito anos de governo FHC,
tornou-se inimigo dessas bandeiras de lutas. Pelo caráter
anti-democrático e anti-popular dos partidos que compõem sua aliança
eleitoral e por sua personalidade autoritária estamos convictos que
uma possível vitória sua significará um retrocesso para os movimentos
sociais e populares em nosso país e para as conquistas democráticas
em nosso continente e uma maior subordinação ao império
estadunidenses. Esse retrocesso não queremos que aconteça.
3. Nossa Posição frente ao Segundo Turno:
Assim, os Movimentos Sociais e a Via Campesiana Brasileira afirmam o
seu apóio e compromisso de lutar para eleger a candidata Dilma Roussef
para o cargo de presidenta do Brasil. Queremos nos juntar aos
movimentos sindicais, populares, estudantis e religiosos,
progressistas, para promover debates com a sociedade, desmascarar a
propaganda enganosa dos neoliberais e autoritários e exigir avanços na
democracia, nas políticas públicas que favoreçam a população, no
combate aos corruptos e corruptores e na democratização do poder em
nosso pais.
Precisamos derrotar a candidatura Serra, pois ela representa as forças
direitistas e fascistas do país.
Devemos seguir organizando o povo para que lute por seus direitos e
mudanças sociais, mantendo sempre nossa autonomia política frente aos
governos.
Conclamamos a militância de todos os movimentos sociais, os lutadores
e lutadoras do povo brasileiro, para se engajarem nessa luta, que é
importantíssima para a classe trabalhadora.
Vamos à Luta!!
Vamos eleger Dilma Roussef, presidenta do Brasil.
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