quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Plano camponês

PLANO CAMPOONÊS

1. O Plano Camponês se afirma como a estratégia do MPA. Ele norteia a nossa luta, dizendo para os grupos de base e todas as instancias do movimento a produção, a educação, a saúde, o meio ambiente, o modelo de produção de energia , as formas de comercialização, de comunicação, de auto sustentação que queremos.

2. Por isso o plano camponês nos convoca todos os dias a construir uma organização , desde a base até a direção nacional, que nos ajude aprofundar nossa reflexão e poder enfrentar todos os desafios : políticos, ideológicos e econômicos.

3. Neste sentido, só compreendem o Plano Camponês os companheiros e companheiras que participam das lutas do povo, que lá na base colocam em prática aquilo que é decidido nas instâncias do Movimento.

4. E lá no grupo de famílias que a gente aprende a colocar ação a educação camponesa, a produção de sementes crioulas, a produção de insumos, a vivência de nossa cultura camponesa, de nossos valores.

5. É lá no grupo de base, por meio da leitura de nossas cartilhas, da reflexão a partir da realidade local, regional, nacional e mundial que a gente passa a entender quem está contra nós e como os inimigos do povo se articulam contra nós.

6. Então quando a gente não se encontra para organizar e defender o modo de vida das comunidades camponesas e a sociedade que queremos e fica se interessando muito ou dando muita atenção as coisas que os inimigos preparam para meter em nossas cabeças, ai a coisa fica feia.

7. É muito comum a gente se deparar com pessoas pobres, sem casa, sem terra, sem estudo sem nada, metendo o cacete no MST, chamando o movimento de bandido, defendendo o uso de venenos na agricultura, puxando o saco dos grandes e até oferecendo o filho ou a filha para um rico ser o padrinho de batismo

8. O plano camponês é a estratégia que nos e nos ajuda a ver o mundo com outro olhar e não com o olhar daqueles que nos dominam, que nos exploram e que nos dizem que todos podem ser ricos e que basta trabalhar muito

9. Nós que somos das comunidades camponesas temos que aprender e apreender que não podemos, de forma alguma, sermos dependentes dos venenos e de todas as porcarias que o mercado tenta colocar em nossas cabeças como importantes . é triste, por exemplo, ver famílias camponesas comprando sementes na hora de plantar, deixando de cuidar do quintal da casa , carregando uma bomba de venenos para aplicar folisuper no feição, no algodão, na soja, no trigo.

10. O plano camponês nos diz que nós camponeses e camponesas não podemos entrar na lógica perversa do modelo de produção das grandes empresas, assumido e aplicado através do agronegócio

11. Tem muita gente em nosso meio que está sempre dentro da Igreja, que acredita na ressurreição, que participa das romarias de padre Cícero, mas não gosta da comunidade, fortalecendo a força dos inimigos do povo.

12. A gente precisa ter clareza que não adianta ficar xingando o capitalismo, metendo a lenha no inimigo do povo sem fazer, por meio de nossa prática,a construção do socialismo E quando a gente trabalha a organização de nossa produção, a defesa de nossa identidade cultural, o controle político de nossas decisões e cultiva diariamente os valores da solidariedade e m otiva mais e mais gente a fazer parte desta visão de sociedade solidaria, estamos construindo o socialismo.

13. Mas tudo isso exige muito conhecimento político, técnico e econômico. Um povo que se nega o acesso ao conhecimento, que se nega a fazer do trabalho na terra uma constante produção de experiências que libertam, certamente será sempre escravo do sistema de dominação. A revolução verde, desde os anos cinqüenta, vem nos motivando e nos ensinando que a gente não precisa produzir conhecimentos a partir de nossa realidade, de nossa prática, mas aplicar os conhecimentos perigosos dos venenos, dos transgênicos, do monocultivo , dos medicamentos feitos para nos controlar.

14. A gente só muda o mundo quando a passa a se entender a partir de nossos modos de vida, de nossas identidades culturais, políticas, étnicas, ou seja, quando passa realmente a se ver a partir de nossa história> o que está por detrás dos sistemas de escravidão, das migrações forçadas, do controle das terras, da forma como a escola nos educa, dos conhecimentos que as classes dominantes tentam nos impor a todo custo, se a a gente não se vê criticamente no mundo, na história , nunca seremos um povo livre, capaz de transformar o mundo.

15. E o conhecimento libertador a gente se constrói por meio dos encontros de formação nos grupos de base, da montagem de bancos de sementes crioulas, diversificando e comercializando a produção, ou seja, compreendendo que fazendo isso a gente está negando aqueles que nos negam e nos dominam.

O PLANO CAMPONÊS E A CONVIVÊNCIA NO SEMI-ÁRIDO

1. Nos países do norte: Alemanha, Itália, França, Estados Unidos, Suécia, Suíça e tantos outros, as famílias camponesas tiveram que aprender a conviver com o gelo, com a neve e garantir a produção de comida. O mesmo acontece nas regiões onde o clima é bastante seco. As longas estiagens exigem aprender a conviver com a seca. Existem regiões de clima semi-árido que quase não chove; Israel, Palestina são exemplos. Os povos Maya , por exemplo, formaram grandes cidades em regiões que chovia bem menos que no no Nordeste brasileiro, mas produziram conhecimentos importantes para conseguirem viver bem naqueles climas bem secos. Cidades com até 60 mil habitantes conseguiam guardar água de qualidade para abastecer toda a população.

2. O Semi-Árido brasileiro é um dos que mais chove no mundo, ou seja, é um dos menos seco. Mas aqui, em função da forma como se deu a formação do povo, o escravismo, a negação do povo a ter o acesso à terra, a destruição de experiências bonitas como é o caso de canudos no sertão baiano e tantas outras, as migrações forçadas para as grandes capitais, acabaram dificultando a construção de formas de convivência no semi-árido. Estas desmobilizações pensadas e articuladas pelo capital obrigaram milhares de comunidades camponesas a ficarem na dependência dos coronéis, dos senhores do engenho e d a terra.As famílias não eram submetidas aos interesses dos senhores por meio do trabalho escravo, da controle eleitoral, mas também por meio do controle dos símbolos sagrados, religiosos.

3. Tudo isso marcou e continua marcando ávida das comunidades camponesas do Sertão nordestino. E hoje com a presença muito mais direta do Estado Brasileiro por meio das políticas assistencialistas.

4. Mesmo com tudo isso, as comunidades conseguiram acumular muito conhecimento importante no sentido de como conviver com as longas estiagens. Josué de Castro, em a Geografia da Fome, nos afirma que as famílias camponesas que se deram conta desta realidade freqüente no nordeste, buscavam se prevenir, produzindo suas ferramentas, seus utensílios domésticos, seus pequenos animais e os plantios resistentes á seca para não faltar a comida durante as longas estiagens..

5. Tem um montão de coisas que a gente terá que reaprender com a história, vasculhando o conhecimento acumulado, O MPA não pode deixar de lado o conhecimento de Padre Ibiapina, padre Cícero, Antônio Conselheiro, Josué de Castro, Gregório Bezerra , Paulo Freire, além do aprendizado que estamos construindo dentro dos movimentos sociais.

Derli MPA

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