O OUTRO LADO DA CRISE É A LUTA
Qualquer crise do capitalismo, nesta fase madura do imperialismo, nos remete ao ponto de partida, quando no século 18, teve inicio a revolução industrial. Dali em diante não somente foi possível produzir excedentes, expandir o mercado e acelerar a formação do capital financeiro, como também, a indústria fez surgir uma potente classe operária que, por força das circunstâncias obrigou-se pelo menos, por um século, colocar-se como força auxiliar da burguesia. O rompimento viria na primeira crise de superprodução em 1870. O operariado mostrou ser o outro lado: empunhou a bandeira da Comuna de Paris, não somente para enfrentar o capital, mas também para aprofundar a crise de poder do Estado capitalista. Sendo assim, fez ruir os pilares de dominação da classe burguesa. Dali em diante, enquanto a burguesia utilizava as guerras como instrumento para atacar as conseqüências das crises, o proletariado respondia com revoluções. Seriam estes os desfechos prováveis para enfrentar a crise atual?
A partir de 1776, marco referencial do inicio da revolução industrial, a classe operária entrou na história como elemento novo no espectro das contradições estruturais. Em 1789, contribuiu na revolução francesa com menos vigor, mas, a partir de 1830 até 1848, não restou outra escolha a não ser servir de força auxiliar, para que as burguesias nacionais da Europa realizassem as suas revoluções.
As revoluções burguesas ajudaram o proletariado enquanto classe a formular e a sistematizar as idéias que orientariam os próximos esforços. Foi justamente neste período que Marx e Engels elaboraram o Manifesto do Partido Comunista; primeiramente como programa da Liga dos Comunistas, depois como idéias do movimento internacional.
O pensamento revolucionário elevou a compreensão de que, uma Associação Internacional seria fundamental para articular o proletariado de todos os países na mesma direção, o que veio a ocorrer em 1864.
Mas eis que explode a primeira crise de superprodução em 1870 e o proletariado francês responde bem a ela. Fez o levante um ano depois e instalou a Comuna de Paris, expulsando os capitalistas para fora daquele território.
A referência da Comuna de Paris demonstrou que o proletariado e as massas populares, dali em diante, não seriam mais força auxiliar de nenhuma classe. Seriam sim, forças motrizes e dirigentes de si próprias. Os instrumentos utilizados para tanto, foram as associações internacionais juntamente com o partido político e as lutas, sejam elas espontâneas, sindicais ou insurrecionais. Foi assim que, em 1889, fora fundada a Segunda Associação Internacional e em 1898 o Partido Operário Social Democrata Russo que conduziu a primeira revolução socialista à vitória em 1917.
Enquanto classe, o proletariado viveu até a primeira revolução de 1917, a Revolução Francesa de 1789, e a Burguesa de 1848 na Europa; a crise de superprodução de 1870; a Primeira Guerra Mundial de 1914-1919 e uma crise teórica profunda com sérias posições divisionistas.
As contradições entre os capitalistas levaram a utilizarem o meio mais apropriado para solucionar as crises de crescimento econômico: a guerra. Nesse período o capital já superara a sua fase concentradora e avançava para a fase centralizadora, onde os diversos ramos de produção e circulação de mercadorias passaram a estar vinculados aos mesmos grupos econômicos, dominados pelo capital financeiro, ou seja, a indústria e os Bancos encontraram o meio mais lógico de ir a todas as partes do planeta acompanhando o mercado. A fase imperialista do capital ganhava ali a autoridade de se impor livremente.
A Primeira Guerra mundial teve êxito, mas não duradouro. O capital financeiro, ansioso por acumular rapidamente também pela especulação, provocou uma nova crise depressiva, em 1929. Os capitalistas, novamente, não encontrando outra solução, dez anos depois, em 1939, com a mesma solução da crise anterior, deram início à Segunda Guerra Mundial, dividindo ao meio as forças das potencias capitalistas e envolvendo a Rússia socialista.
Terminada a Segunda Guerra em 1945, parte dos capitalistas foram vencedores, mas o socialismo ampliara o seu território de domínio e, logo em seguida, viria a China Popular a somar-se a este contingente.
Os capitalistas utilizaram como instrumento de recuperação o Estado investidor e de “Bem Estar”. Visaram ampliar os investimentos e recolocar sobre os destroços da guerra, o novo impulso de crescimento. Refizeram-se as potências e renovam-se as contradições.
Isso porém, juntamente com o paraíso do “Estado de Bem Estar Social”, tinha prazo marcado para acabar: era o ano de 1970 com a crise do petróleo.
As coisas funcionaram até 1970 de tal modo que, enquanto os capitalistas ganhavam com as guerras, o proletariado ganhava com as revoluções ou com a conquista de direitos trabalhistas.
Veio a terceira crise, mas não veio a terceira guerra. Haviam muitos interesses em jogo. O bloco socialista, embora mostrando sinais de cansaço no crescimento, estava bem aparelhado militarmente e, para os capitalistas disputarem entre si, o novo campo de crescimento teriam que dividirem-se, enfraquecendo-se e com isso o território socialista poderia ser ampliado.
Também não vieram as revoluções. A partir de 1970, concluiu-se a revolução vietnamita, efetuou-se a libertação das colônias africanas do jugo Português e esbarramos na revolução nicaraguense.
Os capitalistas, ao invés da guerra, buscaram outro caminho. Utilizaram outros recursos que tendia para a não destruição direta de mercadorias. Em primeiro lugar, os Bancos aproveitaram-se das dívidas externas dos países dependentes e estabeleceram pesados juros para sanarem os seus prejuízos ou garantirem seus lucros. Em segundo lugar, apelaram para as privatizações. Os Estados repassaram para o capital privado tudo aquilo que haviam acumulado como investimentos a partir da Segunda Guerra. Em terceiro lugar, apropriaram-se do patrimônio social dos Estados Socialistas, acumulado por décadas de trabalho. Em quarto lugar, mantiveram algumas guerras em atividades como: Kuwait, Afeganistão, Iraque, e dezenas de ameaças para garantirem a produção industrial bélica. Em quinto lugar, intensificaram a exploração da natureza e, em sexto inventaram a indústria do capital fictício especulativo, nos Estados Unidos, que desencadeou a crise de 2008.
Enquanto os capitalistas faziam as manobras citadas, nós enquanto classe, ao invés de revoluções, perdíamos a capacidade organizativa e rebaixávamos a qualidade das ações. Além de vermos as organizações de classe, fragilizarem-se e desapegarem-se das classes num movimento alucinado em direção a institucionalidade; perdíamos também no campo das idéias, o conteúdo dos conceitos e dos princípios revolucionários.
Se nos períodos anteriores a ação das classes produzia a vanguarda e articulava as massas populares, neste período, ao deixar de agir qualificadamente, as vanguardas criadas anteriormente, com seus instrumentos, abandonaram as classes e as massas populares, distanciaram-se delas e agiram declaradamente como forças contra-revolucionárias, institucionalizadas. Ao invés de forçarem as rupturas, fortaleceram a ordem. “A coisa virou o seu contrário”.
O argumento, do “outro lado da crise”, para que de fato se possa considerá-lo, é necessário que seja amparado por três instrumentos fundamentais: a) A espontaneidade das massas, pois elas ao estimularem-se, garantem o impulso do ascenso e ao mesmo tempo, servem de embrião na formação da consciência, pois descobre-se neste despertar, quais são as tarefas a serem agarradas; b) o referencial teórico que passa a compreender a importância deste movimento e a profundeza das contradições; c) a organização do proletariado, dos camponeses e das massas populares através de um instrumento político e de centenas de formas de estruturas atualizadas e adequadas ao momento histórico.
No entanto, as forças conscientes devem guardarem-se de qualquer espírito triunfalista imediatista, pois a revelação da crise econômica não desencadeia automaticamente a reação contrária. Os Estados atuais são muito poderosos e como tal possuem reservas políticas para atuarem em favor da classe dominante, utilizando para isto, inclusive entidades e lideranças dos trabalhadores. Mas é inegável que a crise cria de imediato, condições favoráveis para divulgar e debater idéias. Este é o papel fundamental da parte consciente: levar todas as forças a assumirem a mesma posição de classe.
Como ser o outro lado da crise para aprofundar a crise?
É preciso compreender que o capitalismo enquanto modo de produção, não está totalmente em crise, embora se aponte que a crise estende-se para além da economia, e inclua a ecologia, a política, a cultura, a ética e a organização social, o Estado ainda mostra capacidade de controle da situação, tanto para auxiliar o capital, quanto para reprimir e retardar as reações populares.
Poderíamos dizer então que, o proletariado, os camponeses e as massas populares deverão atuar em três campos para iniciar o processo de intervenção direta:
1º- No estabelecimento dos conflitos
Os conflitos, neste sentido têm a obrigação de mudar a atual correlação de forças. É a capacidade de reação em movimento que revela as contradições pela ação direta. As ações são criações das forças em movimento, que se qualificam ao realiza-las.
2º - Recolocar o conceito de acúmulo de forças como referencial obrigatório.
O acúmulo de forças, embora o momento já aponte para um “ciclo” ofensivo, é imprescindível investir neste conceito para saber como dispor as forças no campo de ação. Neste sentido, o acúmulo de forças necessita combinar três aspectos: a) Mobilização; b) Organização; c) Formação da consciência.
As mobilizações apontarão para as formas organizativas necessárias, conservando umas e superando outras, e, através da experiência, despertará a consciência que deverá ser elevada através do auxílio dos estudos e do conhecimento científico.
3)Elaborar o projeto político.
Abre-se com o aprofundamento da crise, a possibilidade do proletariado, dos camponeses e das massas populares acumularem para lutarem pelo poder. O projeto é então a formulação que aponta para o tipo de táticas a serem utilizadas e o conteúdo da estratégia que precisamos para avançar no rumo da transformação social.
Contudo a crise tende a ser profunda e prolongada, ela também aponta em três direções:
1º- Os capitalistas poderão encontrar uma saída para recolocar o capital em crescimento temporariamente.
É importante compreender que os capitalistas já não possuem mais recursos para efetuarem mudanças estruturais no modo de produção capitalista. Todas as saídas serão conjunturais e portanto as crises tenderão a ser cada vez mais próximas umas das outras.
Poderão os capitalistas agirem de duas maneiras combinadas: a) reformulando aspectos da produção de mercadorias, mesmo que reduzindo os lucros. Exaurirão ainda mais a natureza e priorizarão alguns ramos da produção; ou b) Provocarão a terceira guerra mundial; colocando as potências capitalistas entre si. Como não há mais a ameaça socialista, ganhariam sempre, mesmo que uma parte fosse massacrada. Aproveitariam também para eliminar um contingente enorme de seres humanos que não se encaixam mais ao atual estágio de civilização capitalista.
2º-O proletariado, os camponeses e as massas populares se levantarão como força universal efetuando a ruptura.
Neste caso, as classes e as massas populares tomarão o destino da humanidade em suas mãos. As revoluções serão colocadas na ordem do dia para todos os países, de tal maneira que, o socialismo aparecerá como o modo de produção transitório para o comunismo, tendo que resolver antes todas as mazelas ora em vigor. Não deixará de ser um caminho longo e doloroso, mas oferecerá condições para que a humanidade siga seu rumo sem destruir-se totalmente.
3º- Se gravará e aprofundará o estado de barbárie.
Esta terceira possibilidade virá caso nem os capitalistas nem os socialistas consigam pôr em andamento as suas concepções. A barbárie será então o fim da civilização, onde a sociedade por si própria encontrará meios para eximir-se de qualquer responsabilidade civilizatória. Cabe lembrar que esta alternativa pode ocorrer, pontualmente, mesmo se os capitalistas encontrarem uma solução paliativa para a crise que não seja a terceira guerra.
Como seres otimistas e socialistas, torçamos para que a segunda opção seja a vitoriosa, pois nenhuma das outras duas alternativas são animadoras. Para tanto, precisamos acreditar que o outro lado da crise somos nós nas diversas frentes de batalha.
Ademar Bogo
Junho 2009
Qualquer crise do capitalismo, nesta fase madura do imperialismo, nos remete ao ponto de partida, quando no século 18, teve inicio a revolução industrial. Dali em diante não somente foi possível produzir excedentes, expandir o mercado e acelerar a formação do capital financeiro, como também, a indústria fez surgir uma potente classe operária que, por força das circunstâncias obrigou-se pelo menos, por um século, colocar-se como força auxiliar da burguesia. O rompimento viria na primeira crise de superprodução em 1870. O operariado mostrou ser o outro lado: empunhou a bandeira da Comuna de Paris, não somente para enfrentar o capital, mas também para aprofundar a crise de poder do Estado capitalista. Sendo assim, fez ruir os pilares de dominação da classe burguesa. Dali em diante, enquanto a burguesia utilizava as guerras como instrumento para atacar as conseqüências das crises, o proletariado respondia com revoluções. Seriam estes os desfechos prováveis para enfrentar a crise atual?
A partir de 1776, marco referencial do inicio da revolução industrial, a classe operária entrou na história como elemento novo no espectro das contradições estruturais. Em 1789, contribuiu na revolução francesa com menos vigor, mas, a partir de 1830 até 1848, não restou outra escolha a não ser servir de força auxiliar, para que as burguesias nacionais da Europa realizassem as suas revoluções.
As revoluções burguesas ajudaram o proletariado enquanto classe a formular e a sistematizar as idéias que orientariam os próximos esforços. Foi justamente neste período que Marx e Engels elaboraram o Manifesto do Partido Comunista; primeiramente como programa da Liga dos Comunistas, depois como idéias do movimento internacional.
O pensamento revolucionário elevou a compreensão de que, uma Associação Internacional seria fundamental para articular o proletariado de todos os países na mesma direção, o que veio a ocorrer em 1864.
Mas eis que explode a primeira crise de superprodução em 1870 e o proletariado francês responde bem a ela. Fez o levante um ano depois e instalou a Comuna de Paris, expulsando os capitalistas para fora daquele território.
A referência da Comuna de Paris demonstrou que o proletariado e as massas populares, dali em diante, não seriam mais força auxiliar de nenhuma classe. Seriam sim, forças motrizes e dirigentes de si próprias. Os instrumentos utilizados para tanto, foram as associações internacionais juntamente com o partido político e as lutas, sejam elas espontâneas, sindicais ou insurrecionais. Foi assim que, em 1889, fora fundada a Segunda Associação Internacional e em 1898 o Partido Operário Social Democrata Russo que conduziu a primeira revolução socialista à vitória em 1917.
Enquanto classe, o proletariado viveu até a primeira revolução de 1917, a Revolução Francesa de 1789, e a Burguesa de 1848 na Europa; a crise de superprodução de 1870; a Primeira Guerra Mundial de 1914-1919 e uma crise teórica profunda com sérias posições divisionistas.
As contradições entre os capitalistas levaram a utilizarem o meio mais apropriado para solucionar as crises de crescimento econômico: a guerra. Nesse período o capital já superara a sua fase concentradora e avançava para a fase centralizadora, onde os diversos ramos de produção e circulação de mercadorias passaram a estar vinculados aos mesmos grupos econômicos, dominados pelo capital financeiro, ou seja, a indústria e os Bancos encontraram o meio mais lógico de ir a todas as partes do planeta acompanhando o mercado. A fase imperialista do capital ganhava ali a autoridade de se impor livremente.
A Primeira Guerra mundial teve êxito, mas não duradouro. O capital financeiro, ansioso por acumular rapidamente também pela especulação, provocou uma nova crise depressiva, em 1929. Os capitalistas, novamente, não encontrando outra solução, dez anos depois, em 1939, com a mesma solução da crise anterior, deram início à Segunda Guerra Mundial, dividindo ao meio as forças das potencias capitalistas e envolvendo a Rússia socialista.
Terminada a Segunda Guerra em 1945, parte dos capitalistas foram vencedores, mas o socialismo ampliara o seu território de domínio e, logo em seguida, viria a China Popular a somar-se a este contingente.
Os capitalistas utilizaram como instrumento de recuperação o Estado investidor e de “Bem Estar”. Visaram ampliar os investimentos e recolocar sobre os destroços da guerra, o novo impulso de crescimento. Refizeram-se as potências e renovam-se as contradições.
Isso porém, juntamente com o paraíso do “Estado de Bem Estar Social”, tinha prazo marcado para acabar: era o ano de 1970 com a crise do petróleo.
As coisas funcionaram até 1970 de tal modo que, enquanto os capitalistas ganhavam com as guerras, o proletariado ganhava com as revoluções ou com a conquista de direitos trabalhistas.
Veio a terceira crise, mas não veio a terceira guerra. Haviam muitos interesses em jogo. O bloco socialista, embora mostrando sinais de cansaço no crescimento, estava bem aparelhado militarmente e, para os capitalistas disputarem entre si, o novo campo de crescimento teriam que dividirem-se, enfraquecendo-se e com isso o território socialista poderia ser ampliado.
Também não vieram as revoluções. A partir de 1970, concluiu-se a revolução vietnamita, efetuou-se a libertação das colônias africanas do jugo Português e esbarramos na revolução nicaraguense.
Os capitalistas, ao invés da guerra, buscaram outro caminho. Utilizaram outros recursos que tendia para a não destruição direta de mercadorias. Em primeiro lugar, os Bancos aproveitaram-se das dívidas externas dos países dependentes e estabeleceram pesados juros para sanarem os seus prejuízos ou garantirem seus lucros. Em segundo lugar, apelaram para as privatizações. Os Estados repassaram para o capital privado tudo aquilo que haviam acumulado como investimentos a partir da Segunda Guerra. Em terceiro lugar, apropriaram-se do patrimônio social dos Estados Socialistas, acumulado por décadas de trabalho. Em quarto lugar, mantiveram algumas guerras em atividades como: Kuwait, Afeganistão, Iraque, e dezenas de ameaças para garantirem a produção industrial bélica. Em quinto lugar, intensificaram a exploração da natureza e, em sexto inventaram a indústria do capital fictício especulativo, nos Estados Unidos, que desencadeou a crise de 2008.
Enquanto os capitalistas faziam as manobras citadas, nós enquanto classe, ao invés de revoluções, perdíamos a capacidade organizativa e rebaixávamos a qualidade das ações. Além de vermos as organizações de classe, fragilizarem-se e desapegarem-se das classes num movimento alucinado em direção a institucionalidade; perdíamos também no campo das idéias, o conteúdo dos conceitos e dos princípios revolucionários.
Se nos períodos anteriores a ação das classes produzia a vanguarda e articulava as massas populares, neste período, ao deixar de agir qualificadamente, as vanguardas criadas anteriormente, com seus instrumentos, abandonaram as classes e as massas populares, distanciaram-se delas e agiram declaradamente como forças contra-revolucionárias, institucionalizadas. Ao invés de forçarem as rupturas, fortaleceram a ordem. “A coisa virou o seu contrário”.
O argumento, do “outro lado da crise”, para que de fato se possa considerá-lo, é necessário que seja amparado por três instrumentos fundamentais: a) A espontaneidade das massas, pois elas ao estimularem-se, garantem o impulso do ascenso e ao mesmo tempo, servem de embrião na formação da consciência, pois descobre-se neste despertar, quais são as tarefas a serem agarradas; b) o referencial teórico que passa a compreender a importância deste movimento e a profundeza das contradições; c) a organização do proletariado, dos camponeses e das massas populares através de um instrumento político e de centenas de formas de estruturas atualizadas e adequadas ao momento histórico.
No entanto, as forças conscientes devem guardarem-se de qualquer espírito triunfalista imediatista, pois a revelação da crise econômica não desencadeia automaticamente a reação contrária. Os Estados atuais são muito poderosos e como tal possuem reservas políticas para atuarem em favor da classe dominante, utilizando para isto, inclusive entidades e lideranças dos trabalhadores. Mas é inegável que a crise cria de imediato, condições favoráveis para divulgar e debater idéias. Este é o papel fundamental da parte consciente: levar todas as forças a assumirem a mesma posição de classe.
Como ser o outro lado da crise para aprofundar a crise?
É preciso compreender que o capitalismo enquanto modo de produção, não está totalmente em crise, embora se aponte que a crise estende-se para além da economia, e inclua a ecologia, a política, a cultura, a ética e a organização social, o Estado ainda mostra capacidade de controle da situação, tanto para auxiliar o capital, quanto para reprimir e retardar as reações populares.
Poderíamos dizer então que, o proletariado, os camponeses e as massas populares deverão atuar em três campos para iniciar o processo de intervenção direta:
1º- No estabelecimento dos conflitos
Os conflitos, neste sentido têm a obrigação de mudar a atual correlação de forças. É a capacidade de reação em movimento que revela as contradições pela ação direta. As ações são criações das forças em movimento, que se qualificam ao realiza-las.
2º - Recolocar o conceito de acúmulo de forças como referencial obrigatório.
O acúmulo de forças, embora o momento já aponte para um “ciclo” ofensivo, é imprescindível investir neste conceito para saber como dispor as forças no campo de ação. Neste sentido, o acúmulo de forças necessita combinar três aspectos: a) Mobilização; b) Organização; c) Formação da consciência.
As mobilizações apontarão para as formas organizativas necessárias, conservando umas e superando outras, e, através da experiência, despertará a consciência que deverá ser elevada através do auxílio dos estudos e do conhecimento científico.
3)Elaborar o projeto político.
Abre-se com o aprofundamento da crise, a possibilidade do proletariado, dos camponeses e das massas populares acumularem para lutarem pelo poder. O projeto é então a formulação que aponta para o tipo de táticas a serem utilizadas e o conteúdo da estratégia que precisamos para avançar no rumo da transformação social.
Contudo a crise tende a ser profunda e prolongada, ela também aponta em três direções:
1º- Os capitalistas poderão encontrar uma saída para recolocar o capital em crescimento temporariamente.
É importante compreender que os capitalistas já não possuem mais recursos para efetuarem mudanças estruturais no modo de produção capitalista. Todas as saídas serão conjunturais e portanto as crises tenderão a ser cada vez mais próximas umas das outras.
Poderão os capitalistas agirem de duas maneiras combinadas: a) reformulando aspectos da produção de mercadorias, mesmo que reduzindo os lucros. Exaurirão ainda mais a natureza e priorizarão alguns ramos da produção; ou b) Provocarão a terceira guerra mundial; colocando as potências capitalistas entre si. Como não há mais a ameaça socialista, ganhariam sempre, mesmo que uma parte fosse massacrada. Aproveitariam também para eliminar um contingente enorme de seres humanos que não se encaixam mais ao atual estágio de civilização capitalista.
2º-O proletariado, os camponeses e as massas populares se levantarão como força universal efetuando a ruptura.
Neste caso, as classes e as massas populares tomarão o destino da humanidade em suas mãos. As revoluções serão colocadas na ordem do dia para todos os países, de tal maneira que, o socialismo aparecerá como o modo de produção transitório para o comunismo, tendo que resolver antes todas as mazelas ora em vigor. Não deixará de ser um caminho longo e doloroso, mas oferecerá condições para que a humanidade siga seu rumo sem destruir-se totalmente.
3º- Se gravará e aprofundará o estado de barbárie.
Esta terceira possibilidade virá caso nem os capitalistas nem os socialistas consigam pôr em andamento as suas concepções. A barbárie será então o fim da civilização, onde a sociedade por si própria encontrará meios para eximir-se de qualquer responsabilidade civilizatória. Cabe lembrar que esta alternativa pode ocorrer, pontualmente, mesmo se os capitalistas encontrarem uma solução paliativa para a crise que não seja a terceira guerra.
Como seres otimistas e socialistas, torçamos para que a segunda opção seja a vitoriosa, pois nenhuma das outras duas alternativas são animadoras. Para tanto, precisamos acreditar que o outro lado da crise somos nós nas diversas frentes de batalha.
Ademar Bogo
Junho 2009
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